10 março 2022

De como recompor a imagem de um governo, ou, o dito pelo não dito


 

Há poucos dias desembarcou em Caracas uma delegação diplomática estadunidense, com a finalidade de entabular negociações com o governo de Maduro. Não se conhece seus integrantes, nem tampouco houve uma declaração para a imprensa internacional. O que se sabe dessa cúpula foi brevemente resumido pelo presidente venezuelano, que se tratou de uma reunião respeitosa e cordial, donde sobresalieron los puntos del diálogo mundial y del país suramericano con sectores de oposición y la conciliación para el camino hacia la productividad, seguridad y paz de los pueblos de la región.

Pouco ou nada, se pudermos considerar que ela teve um alcance muito mais abrangente, e relacionado com o próprio status quo do regime chavista, além de aspectos diretamente relacionados com as sanções econômicas e petróleo. Assim é, o Império, qualquer Império, dá as cartas e joga de mão, faz e desfaz as piruetas de seus discursos ideológicos, e ninguém tem nada com isso. O que era um inimigo mortal do hemisfério, agora é tratado como um possível aliado econômico, desde que possa atender certas demandas imperiais urgentes.

Vale aqui considerar, en passant, dois aspectos que não podem passar em branco. Primeiro, o necessário rearranjo editorial dos grandes grupos midiáticos, porta-vozes dos interesses político-econômicos do Império. Será no mínimo curioso verificar que, por exemplo, no lugar da expressão "o ditador Maduro", surja "o presidente Nicolás", denotando a camaradagem e simpatia a um amigo indispensável. E segundo, penso aqui com meus botões, se não seria mais justo e correto uma reunião com aquele que, até há pouco, encarnava a legítima liderança reconhecida pelo Ocidente, o autoproclamado presidente Juan Guaidó...

Tudo seria cômico, se não fosse trágico, patético e decadente.



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