É curioso um blog que promove em grande medida a política, a literatura e a cultura latino-americanas, tenha o nome de um livro de contos de um escritor estadunidense. Na verdade, Paul Bowles representa aquele artista descolado no tempo e no espaço, sempre em busca de novos horizontes para sua arte, de outros convívios para sua inquietude. Suas viagens foram mais expressões de um burguês a procura dos desígnios de sua vida, com a virtude de que não se satisfazia facilmente com o que encontrava. Tinha grana suficiente para lançar-se ao mundo, com suas imensas bagagens, e assim poder pesquisar sua música e escrever seus romances. Foi bem sucedido em seus projetos, e teve o merecido reconhecimento como compositor e como escritor.
Ainda assim isso não explica objetivamente a escolha pelo título do blog. Em algum momento anterior, devo ter comentado de passagem o móvel desta escolha, e o retomo ainda uma vez: seus textos me marcaram profundamente. Um pouco para além disso, eles não se alinham a uma escrita burguesa, acomodada, que se satisfaz com futilidades. Mesmo que em determinados momentos de sua narrativa seja possível identificar a cultura hegemônica do colonizador, seu esforço em descrever, por exemplo, a paisagem, a vida, os costumes de um lugar com tantos contrastes, expõe a sinceridade de seu olhar para um mundo que não era o seu. Incorpora naturalmente as especificidades de uma existência completamente distinta da que levava em Nova Iorque.
Seus últimos cinquenta anos foram vividos tranquilamente em um rincão de Tanger, sem abandonar os costumes burgueses de sua origem, porém bastante atento à cena cultural marroquina. Quando pude assistir o filme de Bertolucci, cuja linda sequência final destaco acima, a obra de Paul Bowles ganhou relevância para mim. Por estas e outras razões talvez mais subjetivas, o reconhecimento deste blog ao nome de um autor gringo, no aniversário de sua morte.
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