08 fevereiro 2021

Poesia 10

 
Montevidéu, 1989



O espaço do fantoche

(ou, A propósito de Dante)

 

Ei-lo, o inanimado.

Agoniza sob as torturas nas catacumbas

gélidas e sorrateiras da mente obtusa...

Arrasta-se pesarosamente

em sua dança constrita,

os grilhões ardentes/candentes

animado em sua própria avareza...

Lamuria-se aos bocados

com a aflição sofrida no palco sombrio,

o espírito corroído pela inépcia

o amor deglutido na vã expectativa...

Flutua como todos nós,

mas a revolta não será sua redenção.

É o protótipo pálido da natureza humana

o potencial de mobilização

marcado pelos engonços do títere...

E a pesada mortalha

que sufoca perante os olhos sensíveis,

transforma-se no agradável aconchego

em seu mórbido caminho ao ocaso.

 

 

                                                            (Julho/83)




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