Plaza de Armas, Santiago, 2008 |
Altazor
(Canto II, trecho)
Minha alegria é
ouvir o ruído do vento em teus cabelos
(Reconheço esse
ruído ao longe)
Quando as barcas
soçobram e o rio arrasta troncos de árvore
És uma luminária de
carne na tormenta
Com os cabelos a
todo vento
Teus cabelos donde
o sol busca seus melhores sonhos
Minha alegria é te
mirar solitária no divã do mundo
Como a mão de uma
princesa sonolenta
Com teus olhos que
evocam um piano de olores
Uma bebida de
paroxismos
Uma flor que está
deixando de perfumar
Teus olhos
hipnotizam a solidão
Como a roda que
segue girando depois da catástrofe
A alegria de te
mirar quando escutas
Esse raio de luz
que caminha até o fundo d'água
E te mantém
suspensa longo tempo
Tantas estrelas
passadas pela tela do mar
Nada possui então
semelhante emoção
Nem um mastro pedindo vento
Nem um aeroplano
cego apalpando o infinito
Nem a pomba decaída dormida sobre um lamento
Nem o arco-íris com as asas seladas
Mais belo que a parábola de um verso
A parábola estendida na ponte noturna de alma a alma
Nascida em todos os lugares onde ponho os olhos
Com a cabeça levantada
E todo o cabelo ao vento
És mais formosa que o relincho de um potro na montanha
Que a sirena de um barco que deixa escapar toda sua alma
Que um farol na neblina buscando a quem salvar
És mais formosa que a andorinha atravessada pelo vento
És o ruído do mar no verão
És o ruído de uma rua populosa cheia de admiração
(...)
(Tradução realizada a partir do original em espanhol Altazor, de Vicente Huidobro, Madrid: Mestas Ediciones, 2002).
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