17 dezembro 2020

Vicente Huidobro, uma poesia (fragmento)

Plaza de Armas, Santiago, 2008

Altazor  

(Canto II, trecho)

 

(...) 

Minha alegria é ouvir o ruído do vento em teus cabelos

(Reconheço esse ruído ao longe)

Quando as barcas soçobram e o rio arrasta troncos de árvore

És uma luminária de carne na tormenta

Com os cabelos a todo vento

Teus cabelos donde o sol busca seus melhores sonhos

Minha alegria é te mirar solitária no divã do mundo

Como a mão de uma princesa sonolenta

Com teus olhos que evocam um piano de olores

Uma bebida de paroxismos

Uma flor que está deixando de perfumar

Teus olhos hipnotizam a solidão

Como a roda que segue girando depois da catástrofe

 

A alegria de te mirar quando escutas

Esse raio de luz que caminha até o fundo d'água

E te mantém suspensa longo tempo

Tantas estrelas passadas pela tela do mar

Nada possui então semelhante emoção

Nem um mastro pedindo vento

Nem um aeroplano cego apalpando o infinito

Nem a pomba decaída dormida sobre um lamento

Nem o arco-íris com as asas seladas

Mais belo que a parábola de um verso

A parábola estendida na ponte noturna de alma a alma


Nascida em todos os lugares onde ponho os olhos

Com a cabeça levantada

E todo o cabelo ao vento

És mais formosa que o relincho de um potro na montanha

Que a sirena de um barco que deixa escapar toda sua alma

Que um farol na neblina buscando a quem salvar

És mais formosa que a andorinha atravessada pelo vento

És o ruído do mar no verão

És o ruído de uma rua populosa cheia de admiração

(...)



(Tradução realizada a partir do original em espanhol Altazor, de Vicente Huidobro, Madrid: Mestas Ediciones, 2002).




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