Com Solanas na Augusta |
A primeira vez ocorreu em uma sala de cinema, no final dos anos 1990, logo após o lançamento do seu A Nuvem (La Nube, 1998). Saí da sala de projeção verdadeiramente impressionado e muito desejoso de saber mais sobre o autor. De algum modo, foi o momento catalizador para me aproximar com admiração da onda do novo cinema argentino, que estava para começar, com Juan Campanella, Pablo Trapero, Lucrecia Martel, Daniel Burman, dentre outros. Tornar-me-ia um fã incondicional dessa escola cinematográfica, que produziria tanto com tão poucos recursos, apresentando ao mundo uma forma acabada de contar histórias, sempre com um fundo político nos roteiros.
Em princípios de 2003 ou 2004, eu o veria ao vivo pela primeira vez, agora expressando-se não como diretor, mas como uma liderança política. Foi no Fórum Mundial de Porto Alegre, pude ouvi-lo em sua decidida contundência pela luta soberana de nossa Latinoamerica. Estava acompanhado, e por essa razão não me aproximei ao final de sua fala, para apresentar-me e conversar o mínimo que fosse sobre política e cinema. Pino a essa altura ainda não havia enveredado em sua trajetória política partidária, iria se candidatar mais tarde, a princípio aliado ao kirchnerismo, mas aos poucos se distanciando por uma vereda confusa de um peronismo nacionalista mais radical, em seu Proyecto Sur, cujo discurso o levaria a deputado federal e mais tarde ao senado.
A terceira vez ocorreu pouco depois, em meados de 2007. Fiz uma viagem sentimental a Buenos Aires, sozinho, reencontrando-a depois de 15 longos anos. O novo cinema argentino estava em franco desenvolvimento e decidi trazer na bagagem alguns títulos em vídeo, para eventualmente apresentar em nas aulas de Comunicação Comunitária, na Faap. Um deles foi o maravilhoso La dignidad de los nadie, lançado dois anos antes, que relata o drama da crise social e política vivenciada pelos argentinos em 2001. As turmas de cinema puderam ver trechos desse filme e minhas palavras a respeito de Solanas em ótima forma, que não só dirigiu, mas escreveu o roteiro, produziu e atuou. Foi o terceiro filme de uma trilogia, Memoria del Saqueo (2004) e La Resistencia (2005).
A última vez que o encontrei foi em 2018, como mostra a imagem que encabeça a postagem, na véspera das eleições presidenciais do Brasil. Estávamos em plena Mostra de Cinema e no cinema em frente de casa tive a chance, por fim, de assistir seu maravilhoso La hora de los Hornos, que completava cinquenta anos. Fiquei sabendo que ele estaria para uma conversa com o público, e ao dar uma saída para o café, o encontro na porta do cinema. Desta vez o detive delicadamente e me apresentei, comentando meu apreço por sua obra e pedi para sacar una foto!
Poucas vezes senti tanto orgulho em estar ao lado de alguém, e o destino me ofereceu Fernando Solanas, esse grandioso cineasta peronista! Ao contrário de sua expressão habitual fechada, marcada pelos fortes embates da vida, ofereceu-me um amável e receptivo sorriso.
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