27 maio 2018

Reminiscências em tempos de embate político


Aconteceu algo inusitado, pero muy simpático! no ônibus que tomo entre minha casa e a altura da Augusta em que fica a cafeteria que frequento. Quando subi, um senhor me vê com os livros e pergunta o que estudo, se sou professor. Avança nos preâmbulos e sugere uma conversa crítica sobre o papel da Grécia na Europa. Tenho paciência e sem entrar em um debate abrasivo, ofereço uma contra-argumentação, discorrendo sobre cada reprodução midiática que me apresenta. 

Perto do ponto, peço licença, cumprimento-o e me afasto para descer. Vejo então um cidadão negro, idoso, que me sorri, apontando a cabeça com o dedo indicador, como a dizer "saiu-se bem!"... Certamente ouviu a conversa e apreciou o modo com que denunciei o que foi feito da Grécia e de todos os governos que afrontam os sistema financeiro. 

De fato, foi muito agradável observar o meu interlocutor aos poucos ceder na sua voragem em jorrar desinformação midiática. E melhor ainda ver os olhinhos sábios e brilhantes do senhor negro. Ao sair, segurei em sua mão, também silenciosamente, como um gesto de agradecimento.

Esse olhar que jamais reencontrarei me traz a lembrança de outros olhares negros que tenho acompanhado nestes dias. Olhares expressivos, que esperam antes de se pronunciar. Olhares com muita coisa a dizer, prestes a romper uma atávica submissão que nunca lhes agradou sentir.


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