Aconteceu algo inusitado, pero muy simpático! no ônibus
que tomo entre minha casa e a altura da Augusta em que fica a cafeteria que
frequento. Quando subi, um senhor me vê com os livros e pergunta o que estudo,
se sou professor. Avança nos preâmbulos e sugere uma conversa crítica sobre o
papel da Grécia na Europa. Tenho paciência e sem entrar em um debate abrasivo,
ofereço uma contra-argumentação, discorrendo sobre cada reprodução midiática que me
apresenta.
Perto do ponto, peço licença, cumprimento-o e me afasto para descer. Vejo então um cidadão negro, idoso, que me sorri, apontando a cabeça com o
dedo indicador, como a dizer "saiu-se bem!"... Certamente ouviu a
conversa e apreciou o modo com que denunciei o que foi feito da Grécia e de
todos os governos que afrontam os sistema financeiro.
De fato, foi muito agradável observar o meu interlocutor
aos poucos ceder na sua voragem em jorrar desinformação midiática. E
melhor ainda ver os olhinhos sábios e brilhantes do senhor negro. Ao sair,
segurei em sua mão, também silenciosamente, como um gesto de agradecimento.
Esse olhar que jamais reencontrarei me traz a lembrança de
outros olhares negros que tenho acompanhado nestes dias. Olhares expressivos, que
esperam antes de se pronunciar. Olhares com muita coisa a dizer, prestes a romper uma atávica submissão que nunca lhes agradou sentir.
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