Osvaldo Guayasamin, El Grito (1976)
Em meio à disfunção do comando político e econômico
que toma conta do Brasil, somos obrigados a tocar a vida da melhor maneira, sem
deixar de lado a luta por denunciar esse estado de coisas. É impressionante
como a incompetência, mais negligência e desfaçatez tornam-se corriqueiras nas
instituições que governam o país. Sob esses substantivos, gerenciam o cinismo que
prevalece nas atitudes contra a população brasileira, que em qualquer
circunstância menos infeliz, seriam tomadas como insustentáveis.
Essa gentalha resolveu se aliar a sabe-se lá quais
interesses forâneos e concordam em cumprir o papel de correia de transmissão
das suas decisões estratégicas, por certo encomendadas nos grandes balcões de
negociatas financeiras. Desaparece aos bocados o respeito aos cidadãos, ao bem
público, à perspectiva de soberania nacional. Por mais pressão que exista de
organizações internacionais, de líderes políticos, de intelectuais, a justiça
brasileira reitera a mão forte e devora o estado democrático de direito,
zombando da constituição. A mídia corporativa, sem qualquer responsabilidade em
cumprir seu papel de debater e denunciar, referenda o circo de horrores, ainda
que contaminado por desvios éticos.
Ainda assim, de muitas partes surge uma resistência
incômoda, que se contrapõe e se insurge, embora sem a dimensão necessária para
transbordar o copo. É quase uma luta carbonária, que quando se revela,
incorpora pequenas multidões. Dessa insatisfação, sobrevém uma corrente
silenciosa de solidariedade que suplanta o ódio e dessa maneira vamos
enfrentando o Leviatã invisível, que se bate menos por segurança e mais por
desestabilização.
Não sabemos no que isso vai dar. É possível perceber
o poder e a onipresença desse comando que nos oprime sem estardalhaço, e que a
única resposta é a insurgência contínua, ora em grandes multidões, ora
individualmente. Essa oposição deve ser melhor articulada pelos partidos
políticos, e de algum modo fazer valer a força do apoio popular nas próximas
eleições. As centrais sindicais e os movimentos sociais devem acompanhar as
decisões e atuar fortemente, como se cada oportunidade fosse a última.
É nesse estado de mobilização permanente e de ações
concludentes, que faremos o inimigo político – não mais adversário político –
fraquejar em seus objetivos.
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