Guayasamín, Lagrimas de sangre
A chuva caía pesadamente e o vento começava a soprar de novo
Paul Bowles, Que venha a tempestade
Não precisamos mais de quarenta ou cinquenta anos para desvelar a ação irresponsável da burguesia quando ela intervém de modo acintoso para retomar o poder, fora das normas institucionais. Passam-se poucos meses para vir à tona o que parlamentares corruptos, mais o capital financeiro, mais a mídia corporativa patronal, e agora a complacência, ou o movimento moroso (um achado esse duplo sentido!) do judiciário, para a sociedade civil tomar plena consciência do grave coup d'état promovido, cujo processo tratou de subtrair os direitos dos trabalhadores e empoderar ainda mais a classe dominante. Um escárnio.
Paul Bowles, Que venha a tempestade
Não precisamos mais de quarenta ou cinquenta anos para desvelar a ação irresponsável da burguesia quando ela intervém de modo acintoso para retomar o poder, fora das normas institucionais. Passam-se poucos meses para vir à tona o que parlamentares corruptos, mais o capital financeiro, mais a mídia corporativa patronal, e agora a complacência, ou o movimento moroso (um achado esse duplo sentido!) do judiciário, para a sociedade civil tomar plena consciência do grave coup d'état promovido, cujo processo tratou de subtrair os direitos dos trabalhadores e empoderar ainda mais a classe dominante. Um escárnio.
Temos exposto pari passu os desdobramentos dessa lamentável aventura comandada por institutos científicos forâneos, os tais think tanks conservadores coordenados por políticas de estado imperialistas, ou neocolonizadores, como se preferir, cujas ações de algum modo articulam-se de modo sincronizado com nossas burguesias politicamente ignaras e economicamente vorazes, para o controle das economias latino-americanas como um todo. Assim ocorre no Brasil, no Paraguai, no Peru, na Colômbia, no Equador, na Argentina e subindo pela América Central, até alcançar o México.
Na Argentina, chega-se por fim a um momento de impasse dessa voragem brutal e inconsequente. A semana que passou foi trágica para o governo neoliberal de Macri: forte desvalorização do peso, fuga de dólares, aumento da taxa referencial de juros para 40%, previsão de mais tarifazos, congelamento dos salários, com recessão e inflação batendo à porta. Talvez o mais grave para esses inconsequentes travestidos de gestores liberais, a perda da confiança dos mercados. Ou seja, a sombra do trágico dezembro de 2001 retorna ao horizonte das possibilidades. Sobrevém na arguição diária desses falsos profetas o solene ungido pela desfaçatez, com o agravante que ela aprofunda uma sensação que guardo desde o início desse governo, uma psicopatia irreverente.
Tal como é impossível conceber a plena democracia em um governo dotado de políticas neoliberais, porque elas em si são a negação dos direitos e do bem-estar social que contemple a população como um todo, é improvável que o comando de um governo pautado por políticas neoliberais incorpore a sensibilidade no trato do bem-estar social. Em outras palavras, não consigo ver e ouvir Macri, como também Temer et caterva como seres sensíveis à miserabilidade do povo, e pior ainda, como gestores preocupados em preservar a autonomia e o sentido de nação, porque a bem da verdade, não fazem mais que gerenciar as oportunidades do capital especulativo e os interesses das grandes corporações transnacionais.
No Brasil, um cemitério em termos de reflexão e tolerância política, as manchetes já não são sobre ideias, mas sobre mentiras ardilosamente constituídas, para disseminar a confusão, a incerteza, e de modo subliminar, o medo. A informação ganhou, nesse jornalismo pós-Murdoch, o sentido de ousar em nome da fofoca, do escândalo, e para isso todos os recursos são válidos, da escuta ilegal ao fake news, hoje tão badalado pelas editorias políticas e econômicas da mídia corporativa. Com o poder ilimitado para editar a realidade, a mídia se alimenta da omissão de um judiciário acovardado, que não tem o menor interesse em confrontar a classe dominante em sua espoliação não só da narrativa histórica, como dos direitos constitucionais.
O título da postagem se refere a um bando - referência a um ajuntamento oportunista de pessoas - que incorpora a mediocridade, ou melhor esclarecendo, um nível quando muito mediano de percepção da realidade social, nos seus mais profundos e delicados meandros. Vejo seus capitães do mato diversas vezes ao dia, circulando para lá e para cá, vestidos em seus ternos baratos, a exalar conversas que agregam profusão e futilidade. Curioso como são afetados no gestual, sem dispensar qualquer afeto por seus temas, o que não deixa de ser triste se pensarmos por um momento que são referência de atuação produtiva no mercado, a representação do profissional bem-sucedido. Sociologia, história e filosofia destituídas em nome da rapacidade.
Não obstante, constituem os braços da mentalidade medíocre que os remunera, do poder infausto nascido no golpe institucional, e por essa razão não deixam de ser triviais. Ao representarem suas corporações financeiras, os men in black se mobilizam em seus afazeres dispensáveis, cuja imponência reflete a farsa de nossa contemporaneidade, nada além do que superfície em busca de profundidade.
Não obstante, constituem os braços da mentalidade medíocre que os remunera, do poder infausto nascido no golpe institucional, e por essa razão não deixam de ser triviais. Ao representarem suas corporações financeiras, os men in black se mobilizam em seus afazeres dispensáveis, cuja imponência reflete a farsa de nossa contemporaneidade, nada além do que superfície em busca de profundidade.
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