08 fevereiro 2018

Formas de sucumbir a um golpe institucional

 
Os que, um dia, foram denominados bandidos sociais

Passo aqui a elencar algumas impressões acerca da impostura política semeada pelo Estado neoliberal, que ao contrário do que se afirma, se reduz para as classes menos favorecidas, mas preserva o vigor e subserviência aos donos do poder, ou em outras palavras, ao 1% dos privilegiados diferenciados, alocados nos poderes legislativo, executivo e judiciário, no controle da mídia corporativa, no grande empresariado, em parte das lideranças neopentecostais.

São percepções incompletas, que apreendo ao longo desses meses infindáveis de martírio contra as classes trabalhadoras brasileiras, e transcrevo sem a preocupação de desenvolver um texto linear, com a profundidade acadêmica necessária que por certo virá mais tarde. Opto por chamar os partidos da coalizão deposta, impedida, de nacionalista, que me parece mais adequada do que 'partidos de esquerda'. E considero, sem meias palavras, os atores que assumiram o poder como golpistas - e que se mostram habilmente entreguistas do nosso patrimônio. Nada mais do que uma livre e pesarosa reflexão. Vamos às impressões. 

1) As formas de resistência dos partidos nacionalistas são frágeis e previsíveis. Frágeis pois imediatistas, quando se considera a interação com as massas populares; previsíveis porque institucionalmente seguem a mesma cartilha formal. Em suma, não há um processo de organização que envolva, a longo prazo, as bases populares. 

2) De outra parte, as hostes golpistas mobilizam internamente seus fantoches, midiaticamente conhecidos e com algum capital simbólico, para o serviço sujo de caluniarem livremente instituições e personalidades nacionalistas. Os fantoches difundem, além do plano ideológico golpista, a desfaçatez e o cinismo, que instigam a desconstrução discursiva do estado de direito, implantando o vale-tudo nos gestos e nas palavras, que antes de chocar, aprofundam a impressão de uma hipotética anomia social. O que convalida o esforço de ruptura constitucional, ainda que pela miserabilidade argumentativa. 

3) Os políticos da plataforma golpista representam a face mais sinistra desse ventriloquismo, ao se exporem cotidianamente como correia de transmissão e expressar a abjeção de caráter. Boa parte da articulação parlamentar do golpe é constituída por delinquentes que respondem processos por peculato, e até segunda ordem, são apropriados para avançar o processo de desmonte social.

4) A violência policial, cirúrgica, calculadamente direcionada contra grupos de manifestantes esparsos, tem por objetivo criar insegurança nos movimentos e impor a impressão de força a serviço da ordem. É amplificada por imagens espetaculares produzidas pelos veículos de comunicação hegemônicos, "casualmente" presentes no local. Essa atuação policial, ao contrário dos golpes anteriores, não é massiva e indiscriminada, ao contrário, é localizada e incisiva. Assim, a repressão valoriza o efeito simbólico de suas intervenções, infundindo o sentimento de impotência nas mobilizações sociais.

5) Enquanto o silêncio das nações industrializadas incorpora um solene apoio ao golpismo institucional, os nacionalistas apeados do poder amealham apoios isolados, sem força política, como cantores de rock, professores, juristas ou políticos aposentados. Aprofundam assim a "marginalidade" de sua causa. 

6) Por sua vez, confiantes com a adesão estratégica do poder político global, e com apoio logístico das corporações econômicas, o comando golpista expõe sua cara sem qualquer desconforto; o que antes 3% de apoio popular seria sinônimo de crise institucional, hoje não passa de inabalável detalhe circunstancial. O governo golpista subordina seus atos a setores dominantes que dispensam votos, uma característica da ordem neoliberal. Vale dizer, qualquer decisão política será afiançada por essa troika gerencial, oculta e silenciosa, porque dela emanam os princípios a serem cumpridos.

7) Portanto não é exagero se afirmar que o desenvolvimento do golpismo pós-moderno se define, antes de mais nada, pela sociopatia característica de seus atores, cujos atos, burlescos ou não, confirmam uma outra ruptura infame na tradição política: desqualificar a sobriedade do poder. 


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