Enquanto se estabelece um relativo
silêncio nos principais movimentos e partidos de esquerda, os golpistas
encastelados no poder agem sem qualquer restrição ética, preocupados não em
estabelecer algum tipo de governança, mas apenas em eliminar os entraves para a
tomada do país pelas grandes corporações internacionais, ou até melhor dizendo,
transnacionais. O ensino superior sofre o desmantelamento de sua estrutura
educacional ao ser paulatinamente absorvido por empresas estrangeiras, cito
duas, Laureatis e Croton, que sem qualquer preocupação em oferecer qualidade,
exploram as oportunidades existentes, misturando educação com mercado.
Na sexta-feira passada, assistimos à
retomada dos leilões de áreas do nosso pré-sal com a participação de diversas
empresas petrolíferas transnacionais, com o resultado final oferecendo uma
contrapartida irrisória - R$ 6 bilhões, que no câmbio atual significam menos de
US$ 2 bilhões. Seis blocos foram arrematados, com tímida participação de nossa
agora enfraquecida Petrobras. Enquanto o presidente da Shell
do Brasil afirma que “o pré-sal é onde todo mundo quer estar”, o governo
golpista, com as mudanças regulatórias, abre mão de “enormes massas de recursos
financeiros e produtivos e de sua capacidade de apropriação de parte importante
da renda petrolífera gerada no pré-sal”.
O ataque golpista segue no congresso,
com o encaminhamento de pautas que prometem cercear ainda mais a classe
trabalhadora em seus direitos. Enquanto isso, grupos sintonizados com uma visão
obscurantista de arte, grupos de difícil definição (neoliberais,
proto-fascistas, fundamentalistas religiosos, ou um pouco de cada coisa)
despejam nas redes sociais sua ignorância contra exposições que abordem de
maneira livre o corpo, como se este devesse ser preservado para o sacrifício no
altar do capitalismo tardio.
Na semana passada, como que articulados
por esse estranho momento de ‘devoragem’ e emburrecimento cívico, o Condephaat
deu sinal verde para a construção de duas torres em um terreno contíguo ao
Teatro Oficina, tombado pelo próprio órgão em 1982. José Celso Martinez, em sua
lucidez profunda pela preservação do território sagrado do Oficina, articula-se
como pode nas redes sociais, com a arguição dos que apenas serão ouvidos
pela história, iluminado em demonstrar a miséria do Capital e seus
representantes, os "seres cifrões".
O ministério público (com letras
minúsculas mesmo) solicita e uma juíza proíbe a apresentação de Caetano Veloso
em uma Ocupação do MTST em São Bernardo do Campo. Simples assim. Qual seria o
problema? De acordo com Caetano, “ser impedido de cantar não é bom (...) eu me sinto mal, dá a impressão de que
(o momento em que vivemos) não é um ambiente propriamente democrático”. Temos o
impedimento da fruição poética e musical em praça pública decretada de maneira tempestiva, a formular uma outra espécie de ação condenatória, o sacrifício para além do corpo, o sacrifício do espírito.
Com tudo isso, demonstra-se nesse tempo
sombrio, regido por pouca inteligência e pelos vorazes interesses do Capital,
os sinais do que Milton Santos qualificou de “alienação territorial”, em
consonância com a espoliação gradativa do estado democrático de direito, tão
bem analisado por outro de nossos indispensáveis pensadores, Fábio Comparato.
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