Duas coisas tocantes que
emergem da vivência com a experiência popular. A primeira, hoje de manhã, enquanto
uma parte da classe fazia as vistas das provas, um aluno isolado, Felipe,
jovem morador de uma distante periferia realizava a segunda chamada. Ele
não demorou e quando me entregou a prova, disse-me que estava feliz por ter
identificado no filme "Povo Lindo Povo Inteligente" o Márcio
Batista, um dos poetas entrevistados no vídeo, seu professor de educação física
no ensino médio. E talvez mais bonito, ao falar da escritura marginal como
forma de resistência, disse-me que também tinha identificado a cozinheira da
escola pública onde estudou, que sem dúvida em razão de seu caráter estava
presente no sarau 'para expor suas ideias e sua arte'.
Agora há pouco, em um momento de
descanso, localizei no Youtube um trecho do filme "Peões", de Eduardo
Coutinho, que apresenta uma série de depoimentos de trabalhadores ligados aos metalúrgicos de São
Bernardo. Vejo a fala de Zelinha, seu orgulho imenso por Lula, tinha entrado
com ele no sindicato, no mesmo mês de março de 1976, ele como presidente, ela
como copeira. 'A coisa que mais desejo é ir a Brasília, se ele ganhar (o
filme é de 2002) e servir um café no Palácio do Planalto para ele'. Quanta
beleza e simplicidade. E brio, ao explicar que tinha salvo dos militares,
quando da ocupação do sindicato, uma lata contendo um filme. Pediram para ela
guardar e ela não perguntou, tratou de esconder em sua sacola, ao ir para casa. 'Se eles pegassem, acabariam com nossa história', disse algo mais ou
menos assim. Na lata, o filme "Linha de Montagem", de Renato Tapajós.
São partes como essas que conseguem dar sentido e consistência ao todo.
(escrito originalmente em 17.06.2015)
(escrito originalmente em 17.06.2015)
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