28 novembro 2016

Fidel encontra Asturias

Triunfo da Revolução, Diego Rivera 


"A impressão dos bairros pobres àquela hora da noite era de infinita solidão, de uma miséria suja com restos de abandono oriental, selada pelo fatalismo religioso que fazia dela o que era por vontade de Deus. As saídas de água arrastavam a lua ao rés do chão, e a água de beber corria pelos encanamentos contando as horas sem fim de um povo que se acreditava condenado à escravidão e ao vício".

(O Senhor Presidente, por Miguel Ángel Asturias)


Tenho a felicidade de encontrar uma nova edição em português deste autor maravilhoso, que nos abraça com os matizes do barroco latino-americano. Como grande escritor, participou do primeiro governo democrático popular de nossa América, de Jacobo Árbenz, deposto brutalmente pela United Fruit e pela CIA, em 1954. As mesmas insipientes acusações utilizadas mais tarde contra João Goulart, Juan Bosch, Juan José Torres, Salvador Allende: reforma agrária, nacionalização dos meios de produção e prejuízo dos interesses econômicos estadunidenses.

As coisas se juntam em um mosaico febril e lacerado, como a narrativa de O Senhor Presidente: pois anteontem foi a morte de Fidel Castro, chamado por aqui de ditador. Vejo o que a Revolução Cubana fez e o que a Revolução Guatemalteca foi impedida de fazer; a dignidade e a altivez presente em um povo, a mesma dignidade e altivez arrancadas aos desígnios do outro.


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