“(...) Algo aqui se anima e se remexe... Suavemente, deixo cair o
braço ao longo do corpo, com a mão encolhida como uma colher. E o milagre se
produz. Pelo túnel da manga, desce uma migalha de vida. Levanto o braço e
estendo a palma triunfal.
Suspiro e a multidão suspira comigo. Sem me dar conta, eu mesmo dou o
sinal do aplauso e a ovação não se faz esperar. Rapidamente se organiza um
desfile assombroso ante o rato recém-nascido. Os entendidos se aproximam e
olham por todos os lados, certificam-se de que respira e se mexe, nunca viram
nada igual e me felicitam de todo o coração.
Mal se distanciam uns passos e já começam as objeções. Duvidam, levantam os ombros e balançam a cabeça. Houve tramoia? É um rato de verdade? Para me tranquilizar, alguns entusiastas planejam levar-me em seus ombros, mas não passam disso.
O público em geral vai se dispersando pouco a pouco. Extenuado pelo esforço e a ponto de ficar sozinho, estou disposto a ceder a criatura ao primeiro que me peça.”
(Trecho do conto Parturient Montes, de Juan José Arreola)
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