12 maio 2016

A montanha pariu um rato, ou, A propósito do impostor Temer


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“(...) Algo aqui se anima e se remexe... Suavemente, deixo cair o braço ao longo do corpo, com a mão encolhida como uma colher. E o milagre se produz. Pelo túnel da manga, desce uma migalha de vida. Levanto o braço e estendo a palma triunfal.

Suspiro e a multidão suspira comigo. Sem me dar conta, eu mesmo dou o sinal do aplauso e a ovação não se faz esperar. Rapidamente se organiza um desfile assombroso ante o rato recém-nascido. Os entendidos se aproximam e olham por todos os lados, certificam-se de que respira e se mexe, nunca viram nada igual e me felicitam de todo o coração. 

Mal se distanciam uns passos e já começam as objeções. Duvidam, levantam os ombros e balançam a cabeça. Houve tramoia? É um rato de verdade? Para me tranquilizar, alguns entusiastas planejam levar-me em seus ombros, mas não passam disso. 

O público em geral vai se dispersando pouco a pouco. Extenuado pelo esforço e a ponto de ficar sozinho, estou disposto a ceder a criatura ao primeiro que me peça.”

(Trecho do conto Parturient Montes, de Juan José Arreola)



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