Nas vezes que retorno de Santo Amaro, consagrou-se o ritual de meu pai me acompanhar até o ponto de ônibus. Acertamos, no curto percurso, as sobras das conversações tidas na mesa de refeição. Uma vez no ponto, aguardamos o coletivo, tenho sempre umas três opções até o metrô. A conversa ganha outra dimensão, lentamente deixamos o tempo do convívio para o breve tempo da despedida, e do verbal, ganha importância as expressões do corpo. Meu pai se silencia aos poucos, submetendo-se ao desarrazoado fluxo de palavras que elejo para aquele momento, sem me preocupar com o tema. Não passam dez minutos, e eis o ônibus despontando na curva, ao longe. A todo momento, em pé ali no ponto, me pergunta, É esse?, e os ônibus passam, para sua efêmera satisfação. E ganhamos uns minutos a mais. Quando, por fim, meu coletivo se aproxima, tenho tempo para o abraço, para as últimas palavras e subo invariavelmente sozinho, somos apenas eu e ele naquela plataforma. Curioso isso, aquele ponto de ônibus, naquele horário, parece servir unicamente a mim. Embarco e tenho tempo de vê-lo girar nos calcanhares e retomar o caminho de casa...
Por que não somos felizes nas despedidas?
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