30 outubro 2011

Sobre o fato e sua descrição


Acabo de ver uma transmissão límpida, pelo portal Terra, da vitória do Brasil na final do vôlei masculino, com imagem e som ambiente gerados pela organização do Pan, livre das peripécias discursivas dos narradores dos meios hegemônicos, sedentos por inflar as emoções.

As imagens fluíram generosas, para a livre apreensão do espectador. Sem a interpretação de uma locução restritiva, elas mostravam o frescor do momento, revelando o essencial da beleza plástica de cada lance. O enquadramento surgia oportuno, como o desenlace de cada ponto, rompendo com a descrição distanciada da transmissão, para celebrar a emoção vincada nas expressões dos jogadores. Uma delícia! É o que posso chamar de uma intermediação respeitosa, sem fanfarrices. 

Em outras palavras, prevaleceu o atrativo do espetáculo em si, descrito a partir de seus movimentos intrínsecos, oferecido como um saboroso banquete para nós, os espectadores.
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Na verdade, em muitos momentos destes Jogos Panamericanos, a verborragia narrativa nativa alcançou níveis desagradáveis, para não dizer constrangedores. Como se a cobertura estivesse despreparada para lidar com a importância do evento transmitido.
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Mudando um pouco o tema, mas ainda sobre a mídia hegemônica. Há três dias, quase nenhuma referência ao aniversário do ex-presidente Lula. Passou quase despercebido, prevalecendo o desprezo atávico das corporações, que resistem em reconhecer sua grandeza. Ontem, porém, a voragem extremada pelos detalhes do drama e da dor tomaram conta das redações dessas mesmas corporações, trazendo-o de volta ao proscênio. Entre um momento e o outro, o desaparecimento das diferenças, e a emergência do relato que se apropria do fato.


Fica, a partir de agora, exposta a disputa pela audiência, o que deve promover um esforço jornalístico mais próximo do espalhafato do que da informação.  


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