07 outubro 2011

Os labregos de nosso tempo




Riamo-nos dos labregos, dos lapuzes, dos labrostes da falsa aristocracia
Agripino Grieco


Foi mais um desses encontros sem consistência, que ocorrem ao nos lançarmos pelas calçadas congestionadas no cotidiano da metrópole. Seu olhar surpreso - e digo surpreso porque não contava em esbarrar em um conhecido naquele momento - foi absorvendo o viço da minha paciência. A cada comentário, via-o dobrar-se em si mesmo, como se o esforço por encontrar palavras o consumisse em um ato performático. Ainda fez um supremo esforço, bem reconheço, em valorizar a memória de seus percursos menos recentes. Mas os balbucios terminaram por formatar o luzidio cinzento das faces, e o esforço final culminou no comezinho das inutilidades que guardamos para essas ocasiões. 

Fez, então, uma nova tentativa, por um caminho que me pareceu o mesmo, agora sobejando o sucesso mais recente. Mas foi aí que o semblante substituiu a máscara e o corpo arquejou definitivamente em torno de si, a buscar-me com o mesmo interesse que um javali almeja as páginas abertas de um livro. Foi como se não houvesse interlocução e por essa razão a voz se distanciou, o eco da narrativa a vibrar sem a menor importância. Por fim alegou algum compromisso e despediu-se, impressionado consigo mesmo. Do encontro civilizador, restou o espasmo de uma alma fenecida, e, claro, a beleza do crepúsculo.



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