A vitória de Cristina ultrapassa os limites da análise frívola de certos meios midiáticos tradicionais, que buscaram descaracterizar sua força e seu alcance. Se houve um apoio massivo da população, foi porque houve o reconhecimento de um projeto político vitorioso, aplicado ao longo destes últimos oito anos, em certos momentos, a ferro e fogo, mas sempre respaldado pela participação social. Os criminosos do último período ditatorial (1976-83) foram levados às barras da lei, para responder por seus delitos. A ousada Ley de Medios foi implantada após uma ampla consulta popular, pelas casas do poder legislativo vigente. A democracia se fortaleceu, o país saiu do marasmo econômico em que patinava há meros dez anos, para hoje em dia, constituir-se em um dos protagonistas da integração política, cultural e econômica da Unasul.
Recordo-me que em dezembro de 2001 estava em meio a uma roda de argentinos, em um albergue parisiense, e o choro se misturava ao desespero por não se saber o que viria no futuro próximo. A Argentina fenecia após dez anos de governo Menem (1989-1999), que se alinhou à política neoliberal, seguindo os ditames do famigerado Consenso de Washington, e após dois anos de governo Fernando de La Rúa (1999-2001), marcado pela instabilidade política, desemprego acima de 15%, aprofundamento da crise fiscal, gerando desconfiança no mercado financeiro internacional.
Hoje, o momento institucional em nada lembra aqueles dias turbulentos e desalentados, em que o país, sem saída, se dobrou incondicionalmente à banca do FMI. Após oito anos, a Argentina tornou-se um país muito mais saudável (reservas recordes de mais de 50 bilhões de dólares; balança de pagamentos superavitária; previsão de crescimento do PIB em 2011 de 5,5%; taxa de desemprego estável em torno de 8%, contra, por exemplo, 24% em 2001), ainda que com alguns problemas estruturais (como a necessidade de mais investimentos na capacidade produtiva, que se aproxima do limite) a serem resolvidos. Junto à consolidação das conquistas, os desafios se colocam no horizonte do novo mandato de Cristina Kirchner.
Neste momento, torna-se fundamental realçar sua larga vitória, com quase 40% a mais que o segundo colocado, o que evidencia o apoio popular a um projeto econômico, à memória social, à militância política. La plaza de Mayo esta colmada de personas que festejan una grande victoria, que consignan el sueño de un pais más equitativo y justo.
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