Senti o gosto de meu próprio sangue... Sei que é difícil recuperar uma narrativa límpida, mas... mas era visível que os dois homens que entraram no ambiente não tinham mesmo boas intenções. Era como se eu soubesse que ambos portavam armas, por sob seus sobretudos. Procurei alertar as pessoas presentes, mas minha voz fracassou... A tudo visualizava, tal como uma câmara indiscreta, que captava os movimentos na mais completa impotência, guardando-os para mim. Tentei me esconder, fugir dali, mas não tinha pernas e meu olhar furtivo se alimentava da presença dos matadores, que se imiscuíram por entre suas vítimas, com o mais natural dos comportamentos. Eu os identifiquei, em meu silêncio, como os cruéis assassinos de um futuro anunciado, a cada instante mais próximo. Ficou claro que qualquer esforço seria vão, que o vago plano dos criminosos seria levado a cabo. O primeiro deles começou a sacudir estranhamente o corpo, como se fosse a senha para o ataque e o outro seguiu o combinado, ao erguer o braço e atirar com a pistola, para um lado, para o outro, indiscriminadamente. A cena, de meu ponto de vista, passou a transcorrer como se fosse um filme silencioso, os movimentos contorcidos, dilacerados, se debatendo em pura representação imagética. O sujeito que sacudia não demorou a mostrar sua escopeta debaixo do sobretudo e mais uma vez compreendi que não escaparia. Eles atiravam e sorriam. Tive a impressão de reconhecer um deles, quando o que portava a pistola se aproximou de maneira convicta, mirou-me na face e, sem dor nem apelação, efetuou um único disparo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário