Paris, 2010 |
Era uma vez um sujeito que apreciava desvelar o seu mundo ao redor. Fazia-o com seu cavalete, suas telas, a paleta, os pincéis, a espátula. Sobrevivia com o pouco que o tempo generoso lhe proporcionava, cada jornada voltada para os detalhes da vida.
Seu cenário eram as manhãs ocultas pela névoa, as tardes varridas pela suave brisa do campo, o último crepúsculo reluzente e alaranjado. Descrevia com tênues pinceladas as nuvens embaralhadas pelo vento, os extensos plantios a perder de vista na planície, e mais além, a vegetação incólume, que equilibrava-se em um mar de colinas, sulcadas por sua vez pelos caminhos de terra, que conduziam aos casebres esparramados nas encostas e fundos de vale, reduto último da famélica massa de camponeses, abrigo da esfalfante labuta. Cores e cenas que dialogavam com o espírito da vida, abundante, sofrida.
Até que um dia, em meio a violenta tempestade, uma carruagem surgiu (um pouco de fantasia para dar mais verossimilhança à fábula) e dois homens aportaram-lhe o ofício inquestionável: estava proibido de prosseguir com seu trabalho, junto à natureza e aos homens.
Após meses de busca infrutífera, restou ao artista um serviço de limpeza na casa funerária da cidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário