02 dezembro 2010

Carlos Drummond de Andrade (1)


Poema de Sete Faces
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Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
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As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.
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O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Pra que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.
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O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.
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Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.
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Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.
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Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.
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