Banca de jornais, Caracas |
Imagine o dono de uma das quatro cadeias de tevês estadunidenses em uma reunião da ong Periodismo Necesario, em Caracas, que em certa altura de sua intervenção, expõe com todas as letras, 'Se os terroristas de 11 de setembro tivessem feito bem o serviço, talvez os Estados Unidos seriam hoje diferentes'.
A pergunta que não quer calar: o que aconteceria com esse alto executivo ao desembarcar em Miami ou Nova Iorque?
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Corta para a reunião da SIP (Sociedad interamericana de prensa), ocorrida em Aruba no mês passado, convescote que reuniu cerca de 40 donos de veículos de comunicação da Venezuela, Colômbia e América Central, dentre eles Guillermo Zuloaga, o dono da Globovisión, que sacou a seguinte pérola em sua intervenção, 'Si lo hubiesemos hecho bien, quizás tendríamos una Venezuela distinta hoy'.
Aconteceu que este distinto golpista de 2002, foi detido pelas autoridades venezuelanas para prestar depoimento acerca de seus comentários, que pelo visto seguem saudosa e intolerantemente golpistas. Foi liberado em seguida, proibido de deixar o território nacional até que o lamentável episódio se esclareça.
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Por aqui, um jornal televisivo de (ainda) grande audiência não perdeu tempo em denunciar o autoritarismo do governo de Chávez. Dias antes, o mesmo jornal tinha se referido ao encontro da tal SIP, destacando da pauta o repúdio à crescente falta de liberdade de expressão que atinge o continente, bem como a violência em curso contra jornalistas na região.
Com esse termo 'na região', tentou-se no mínimo um sórdido efeito semântico, relacionando a violência praticada contra jornalistas com a (hipotética) falta de liberdade de expressão de governos da região (entenda-se o de Chávez, Morales, Correa e mesmo o de Cristina Kirchner), quando na verdade a violência identificada naqueles dias foi o assassinato de mais um jornalista colombiano, por grupos paramilitares.
Ou seja, o apresentador encontrou uma forma grosseira de poupar o inepto governo colombiano (incapaz de suspender a sequência de crimes contra jornalistas), jogando o problema para 'a região' e assim, robustecendo uma impressão falsa (de que aqueles governos citados é que seriam ineptos, além de autoritários).
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Ocorre que justamente na Venezuela, Bolívia, Equador e Argentina se trilha o caminho inverso, a democratização da comunicação social, com a participação mais efetiva de amplos segmentos sociais nos acessos aos meios de comunicação. Nestes países, por exemplo, a rádio comunitária não é criminalizada, ao contrário, proliferam cada vez mais. Desta forma, parcelas sociais menos favorecidas passam a ter voz, rompendo com os privilégios de uma casta dominante, que sempre se atribuiu o direito divino de interpretar os fatos sociais.
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Os Zuloagas permanecem espalhados por este continente e não cessam de fazer da comunicação uma fórmula bem sucedida - tanto quanto moralmente miserável - de fazer negócios. Não se incomodam com a democracia, desde que ela esteja atrelada aos seus interesses. A diversidade midiática é um blefe e falar sobre uma lei que regule os serviços de audiovisuais, para esses mafiosos da comunicação, é falar de censura. Nada mais hipócrita.
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