28 agosto 2024

Ainda uma vez Benedetti



 

Pedrinhas na janela


De vez em quando a alegria

lança pedrinhas contra minha janela

quer me avisar que está aí esperando

mas hoje me sinto calmo

diria quase equanime

vou guardar a angústia em seu esconderijo

e então deitar-me com a cara para o teto

que é uma posição galharda e cômoda

para filtrar e acreditar nas notícias


quem sabe onde estão minhas próximas pegadas

ou quando minha história será computada

quem sabe quais conselhos vou inventar ainda

e qual atalho encontrarei para não seguí-los


está bem não brincarei de despejo

não tatuarei a recordação com esquecimentos

há muito para dizer e calar

e também há uvas para encher a boca


está bem me dou por persuadido

que a alegria não atire mais pedrinhas

abrirei a janela

abrirei a janela.


(Tradução do texto original Piedritas en la ventana, Antología Poética, Madrid, Alianza Editorial, 2008).



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