05 junho 2024

Distorções


Em algum lugar de Rafah, maio de 2024

Por mais paradoxal que possa ser, o comportamento geral, pautado em interpretações de coerência ética nula e violência tolerada, só se torna dominante por seu caráter pusilânime, em que não existe qualquer necessidade de justificação dos atos. 

Tudo passa a ser aceito e nada tende a ser explicável. Exemplos? A vitória de Milei na Argentina, a de Bolsonaro no Brasil, o massacre da população palestina ao longo de oito longos meses, a divulgação de boatos em meio ao catástrofico dilúvio no Sul do país, e por aí afora. 

Grandes e pequenas maneiras de ferir o outro, que se naturalizam no dia a dia pela violência e pela indiferença vulgar. Bolsonaro dizia que seria necessário destruir para depois recomeçar do zero. A que se referia? 

Milei diz que literalmente que as pessoas saberão como não morrer de fome, e como presidente de uma nação, ignora qualquer medida de auxílio às parcelas menos favorecidas, que crescem a cada dia. 

Netanyahu faz ouvido de mercador ao clamor mundial para suspender os bombardeios, como se a insânia exigisse o aniquilamento físico de tudo e de todos em Gaza. O caloroso clamor mundial pelo cessar-fogo encontra uma resposta com mais foguetes e mortes.

Na Espanha recentemente ocorreu um evento que reuniu a direita mundial, do partido Republicano ao Chega, do Vox à União Cívica Húngara. Milei utilizou o evento para caluniar de modo vil a esposa do primeiro-ministro espanhol, Pedro Sanchez.

É como se o comedimento fosse eliminado do dicionário político e em seu lugar emergisse uma nova ordem, pautada pela crueldade acintosa, preparando o campo para uma semeadura da intolerância como ação política, e de uma colheita nefasta para a sociedade humana. 

Promove-se a destruição pelo ato violento, implácável, sem limites. Para quem sofrer as consequências, não há mais direitos a se pleitear como amparo, a brutalidade se torna absolutamente necessária e disponível. O que se espera com isso?

A difusão da desesperança, da quebra de confiança no outro, da impossibilidade de se acalentar um projeto civilizatório de respeito. Ao que tudo indica, trata-se de um processo global, que se mobiliza com eficiência demoníaca, para eliminar qualquer rastro de compaixão.


 

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