03 dezembro 2022

Sobre o processo civilizatório



O povo brasileiro pagou, historicamente, um preço terrivelmente alto em lutas das mais cruentas de que se tem registro na história, sem conseguir sair, através delas, da situação de dependência e opressão em que vive e peleja.

Darcy Ribeiro.


Parece que essa tormentosa noite vai se dissipando aos poucos, e o país recompõe o equilíbrio civilizatório. O ex-capitão não se digna a terminar decentemente com seu desgoverno, mantendo-se omisso na vida política. Lula e sua equipe de transição faz das tripas coração para dar uma ordenação razoável ao descalabro produzido nesses quatro anos. Persiste, em minha visão de estudioso social, o enigma da atração que o crápula e seus aliados edificaram junto a grandes parcelas da população, a ponto de alcançar quase metade dos votos válidos. 

Bem verdade que muitos artifícios desleais e ilegais foram cometidos, como a liberação do empréstimo consignado, as novas parcelas de última hora do auxílio emergencial, os bloqueios mal explicados da Polícia Rodoviária Federal no dia das eleições, concentrados no Nordeste do país, além do tal orçamento secreto, onde grandes dotações foram carreadas para as prefeituras aliadas, sem uma rubrica definida de utilização. Uma farra com o dinheiro público, que se juntou à chantagem empresarial de patrões bolsonaristas junto a seus empregados, na coerção por votos. Qualquer outro candidato da esquerda teria sido impiedosamente derrotado, como foi Haddad em 2018. Penetraríamos mais fundo na noite trevosa, sem qualquer esperança de retomarmos o processo civilizatório em seu estatuto mais humanitários. 

Em outras palavras, a depravação estaria institucionalizada, para se alcançar os fins que o ex-capitão e seus filhotes amestrados projetaram no início desse pesadelo, a destruição para depois reconstruir. Sabemos hoje em que bases se daria essa reconstrução, ou antes, essa continuidade destrutiva. Lula resistiu e nos conduziu à vitória, ao reencontro da cidadania. Alinhados a ele, a importante atuação da militância petista, o papel político desempenhado por Simone Tebet e das forças democráticas suprapartidárias, a atuação imprescindível de youtubers, influencers, comunicadores das redes sociais, que conseguiram contrabalançar a força do discurso da direita. Como disse em algum momento, foi a nossa Estalingrado, e na luta sem quartel, venceu a esperança, a educação, a diversidade, a justiça, a dignidade. 

Podemos anunciar que temos futuro para as novas gerações, e que este foi o momento supremo de sua reconstrução.



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