La Plata, 2011 |
A cada dia, um torvelinho de bobagens proferidas por ocupantes ou simpatizantes desse desgoverno. Nada de promissor. Problema maior tem sido o vácuo produzido pelas sandices, o que proporciona uma espécie de legitimação da tolice proferida. O exemplo mais recente foi em um podcast de grande audiência, onde um dos apresentadores fez uma absurda defesa da existência de um partido nazista no Brasil. Sartre tinha uma simples e objetiva consideração a respeito das nossas ações, "somos responsáveis por nossos atos". A liberdade como condição da existência do ser-humano, vale aqui realçar, considerando sua condição ontológica, era proclamada pelo filósofo como um projeto lançado no mundo, onde o indivíduo é "responsável por tudo quanto fizer".
O argumento da responsabilidade e consequência nos atos sempre me pautou em minha atuação social. Em outras palavras, a liberdade não é um conceito abstrato, forjado ao sabor do "posso pensar e agir como bem entender", mas ao contrário, ela é resultante da concretude do processo histórico, da materialidade humana capaz de produzir e reproduzir as condições de exigência da sociedade. Dito isso, não podemos nos livrar das experiências do passado, nem tampouco alimentar sonhos de transformação sem uma compreensão do mundo em que vivemos. Aí o cara sobrepõe o anseio de liberdade irrestrita do indivíduo para validar a existência do partido nazista, como uma tolerância atribuída ao pensamento liberal. Não entendeu nada, do passado, de onde estava e onde queria chegar, e lhe bastaria a compreensão histórica para inviabilizar o argumento defendido com tanta ênfase. Mais tarde, de maneira oportuna, se justificaria (a má-fé sartriana) como tendo assumido (o argumento) por estar alcoolizado.
Insisto neste ponto: a abertura para a tolice tornou-se um caminho desenfreado e tentador, que somente passa a ser negado quando as consequências econômicas estabelecem limites. Nada mais abjeto do que ser lembrado de que uma bobagem foi dita, que um ato inconsequente foi realizado, somente depois da perda do(s) patrocínio(s). Temos aí o retrato da fragilidade moral do ser humano, em tempos de concorrência neoliberal, onde bastam os fins para justificar os meios, onde o sucesso é permitido e escarafunchado a qualquer preço. É certo que ao longo da existência desse podcast, houve um momento em que a ousadia covarde do ou dos apresentadores, propiciou uma oportunidade para dobrar o cabo da boa esperança - e da compreensão dos limites de nossa liberdade enquanto seres sociais - acreditando que quando mais longe se pudesse chegar, quanto mais alucinante pudesse ser a droga usada (no sacrifício das hipóteses éticas e morais), mais formidável seriam os resultados de audiência - para não dizer o quão atraentes seriam os eventuais novos aportes financeiros.
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A política segue como uma esperança de fundo: uma grande maioria aguarda o mês de outubro, com a subsequente eleição de um novo governo que proporcione novas esperanças, que reacenda o alento pelos valores comunitários, pela importância da existência do outro. O país também adoeceu nesses anos, tornou-se uma carcaça frequentemente devorada por novos agentes do capitalismo financeiro. Antes que percamos tudo, inclusive a confiança em um mundo mais justo, que possamos eliminar esse protofascismo que nos aflige e aspira por se disseminar descontroladamente pelos desinformados, pelas milícias, por um empresariado vendido e sem amor-próprio. O sol pode voltar a brilhar, e do meu ponto de vista (até porque é imprescindível atuarmos com um posicionamento político objetivo), alimento a expectativa de que seja sob um novo governo Lula.
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