De volta das aulas, o senhor Cesar Malbernat costumava tomar o metrô, linha verde. Da Ana Rosa até a Consolação, meras 4 estações. Retornava com aquela exaustão de quem havia cumprido bem o dever com a educação. Agora, por cerca de dez ou quinze minutos, o esforço não dependia mais dele: entregava a tarefa ao maquinista e procurava aproveitar o breve momento de repouso. Fechava os olhos e adorava quando percebia que era aquele maquinista que conduzia muito vagarosamente, ou por estar adiantado, ou por desejar recolher o máximo de pessoas que saíam tarde do trabalho. A velocidade reduzida fazia com que o tempo se expandisse, os ruídos do movimento das composições ficavam menos enfáticos, a redução da velocidade era quase imperceptível na chegada das estações e o período de espera também se estendia preguiçosamente. Então, vinha aquele sonido percebido tão vagamente, que alertava para o fechamento das portas, e aos poucos a retomada da velocidade cruzeiro, morna, suave, como se pretendesse deslizar pelo resto da noite, desprendendo-se dos trilhos e flanar tal como um trem voador, sem destino. O senhor Malbernat gostava de desfrutar aqueles minutos sem fim, nos bons dias de aula conseguia fechar os olhos e adentrar a dimensão dos sonhos. Recuperava em flashes a atenção carinhosa dos alunos, a despedida entusiasmada, ansiosos pela próxima semana. Adormecia ao sabor do sacolejo, como se o movimento o embalasse e o vagão o acolhesse em um merecido descanso.
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