O livro de crônicas que está a caminho |
Mais alguns meses e virá a lume o terceiro livro, o volume 1 de crônicas O que aparentemente nos resta - Crônicas sobre a impostura, a indolência e a dignidade, pela editora Kotter. Faço os derradeiros ajustes e até o fim do mês começamos a trabalhar na edição. São 41 crônicas que abrangem um período sombrio da política brasileira contemporânea, do final do governo Dilma até o início do desgoverno do capitão cloroquina. Como descrevo no prefácio, O relato avança com a deterioração político-econômica e a formalização de um neoliberalismo econômico mambembe como sistema normativo, a devorar o corpo e o tempo do trabalhador. Após tanta impostura e indolência, creio que prevalece o sopro de dignidade.
O que
ameniza o tom de catástrofe que recobre o período é a energia e a esperança com que
me esforço para questionar os fatos. Penso que o subtítulo revela o espírito da
obra, crônicas que nos desnudam com a crise galopante, mas que, como no verso de Alfonsina Storni, nos permite vislumbrar o horizonte e alçar voos "por los cielos a buscar primaveras". Ainda que dolorosamente impressa a farsa armada para que um grupo de mambembes
tomassem o poder e nos levasse às portas da destruição, surge aqui e ali na obra,
um olhar para o futuro, se não para a possibilidade de uma revolta, ao menos de uma
redenção abençoada por todos os santos e orixás, para o mal desvanecer e reassumirmos nossos verdadeiros desígnios.
Outro aspecto que aplaca a pungência dos relatos são as crônicas que abrangem temáticas distintas, deslocados de nosso tempo, e que expressam algum sentido de inspiração, como Umberto D., o personagem do filme homônimo de Vittorio de Sicca; Manuel Bomfim, o grande pensador negro do nosso Brasil do início do século XX; Olga Berggolts, que lutou com bravura em Leningrado contra a besta nazista; ou o desconhecido e não menos relevante cidadão Ranulfo, com seu exemplo de resistência na vida cotidiana. Interpolações que interrompem o drama continuado dos relatos da macro-decomposição político-econômica, e justo por esse motivo, muito bem-vindas. Surgem aqui em quantidade discreta, porém aparecem em mais quantidade (e provavelmente mais animadas) no volume 2, já pronto, a se publicar no próximo ano.
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