Alfredo
García Vega esperou minutos para ser atendido na recepção do hotel. Bateu no
sininho e nada. Ao dar o primeiro passo em direção à saída, sentiu um novo
tremor, desta vez mais forte que o primeiro poucos minutos antes, que o fez
caminhar feito um bêbado até se escorar em uma poltrona. Aturdido, atravessou o
saguão completamente vazio. Do bar, ao fundo, ouviu apenas o tilintar macabro,
sob a trepidação inusitada. Em meio ao silêncio profundo, passou a distinguir um
ribombar distante, uma sucessão de trovões ou, o que parecia absurdo, disparos de
grosso calibre.
Uma vez na rua, não
constatou qualquer movimento; um vento quente bafejou-lhe o rosto, como o sopro
deslocado de uma imensa fornalha. Passava pela calçada, em sentido contrário ao
seu, um sujeito fardado com o semblante atribulado, bloco de anotações em uma
das mãos. Garcia Vega de um salto se interpôs ao desconhecido a barrar-lhe o
caminho. Indagou sobre aqueles tremores e ruídos que se sucediam. O homem o fitou
de modo grave e prosseguiu em seu trajeto. García Vega começava a se arrepender
pela escolha de seu pernoite, um lugar esquecido no mundo, abandonado ao seu
desdém. Sua impressão era a de que havia algo de errado. Correu ao encalço do
desconhecido.
Tomou-lhe pelo braço no
meio da rua, O que está acontecendo?
O homem, ainda mais impaciente e sem dar tempo para que Garcia Vega refizesse a
pergunta, recomendou que se dirigisse ao posto militar mais próximo e que se
alistasse. Garcia Vega ficou absolutamente sem ação diante do comentário. Notou
que seu interlocutor trajava um uniforme anacrônico, um chapéu militar decorado
por um penacho, o jaleco azul claro com fios dourados bordados entre as
fileiras de botões, o que o remetia às guerras napoleônicas, ou de modo mais
apropriado, a um recém-terminado desfile carnavalesco.
Após as advertências, o homem fez umas breves anotações e desvencilhou-se de uma vez, deixando García Vega absorto em seu desespero. Alguém me ajude!... balbuciou ao chegar no meio da rua, não foi ouvido. Três poderosos estrondos sacudiram as edificações e os poucos automóveis estacionados. Dois cavalos negros, certamente as presenças mais belas daquele episódio, surgiram em galope frenético, na direção contrária a que se dirigia o homem fantasiado, para terminarem sugados pela sofreguidão da noite. Prolongava-se um tempo estagnado, como em uma triste fábula, cuja cronologia se perdia no rumor dos estranhos acontecimentos.
Já à distância, o hipotético militar voltou-se para García Vega e retomou gestos e palavras perdidas, talvez insistindo para submeter-se ao posto de alistamento o quanto antes. E desapareceu em meio às incertezas da narrativa.
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