22 setembro 2021

Juan Gelman, uma poesia (2)

 



Pedro o pedreiro


Aqui amarão, aqui odiarão, dizia Pedro, pedreiro,

cantando, levantando as paredes

suas mãos haviam se endurecido no ofício

mas nas palmas, ainda se elevavam doçuras e tristezas

que iam de encontro ao muro, ao teto

e depois, com o tempo, ardiam surdamente

ou entravam nos olhos das mulheres doces nas habitações

e elas entristeciam como quem se descobre uma nova solidão.


Pedro, desde o andaime

costumava cantar o Quinto Regimento,

falava aos companheiros sobre Guadalajara, Irún,

e de repente se fechava silente com sua Espanha.


De noite colocava suas mãos para dormir

e se via de volta à frente, envolto em seus balaços,

arrematava seus mortos para que não se esquecesse

a colher de novo se enchia de raiva.


E na manhã que se foi do andaime parecia

que uma pergunta, no fundo, ainda o iluminava

os companheiros o rodeavam esperando em silêncio

até que alguém veio e disse, "Levantem o defunto".


(Do original em espanhol, Pedro el albañil, extraído da obra Gotán, Seix Barral, 2008) 



Nenhum comentário: