Cena argelina, tomada por Pierre Bourdieu |
“Devido à
desagregação das unidades sociais, à distensão dos laços sociais tradicionais e
à debilitação da opinião pessoal, a transgressão da regra tende a converter-se
em regra: já nada constitui um obstáculo para o individualismo que se introduz
com a economia moderna. (...) conjuntos enormes e díspares de indivíduos
isolados, todos se sentem protegidos pelo anonimato, cada qual se sente
responsável por si mesmo, porém unicamente de si e ante si. Nestes tempos cada
um possui suas próprias mãos, ninguém pode contar além de sua habilidade. Cada
um deve enfrentar sua batalha e contar com seus próprios recursos para ganhar a
vida. Nada de “meu tio” ou de “meu irmão”. Os homens dizem agora “cada um para
sua barriga”, “cada um olha para si mesmo”, quando antes dizia “para cada um a sua
tumba”, porque só lá embaixo cada um se confrontará com seus atos: nesse dia
não posso fazer nada por ti, nem você não pode fazer nada por mim, enquanto
aqui a vida não é possível sem ajuda mútua. (...) Como se costuma dizer, “um
homem é homem para os homens” (...).”
Um Pierre Bourdieu etnógrafo, que registrou na segunda metade dos anos 1950 a Argélia e sua população, ainda sob o domínio francês. A etnografia da dominação colonial possibilita, 60 anos mais tarde, uma interpretação dos nossos tempos de perdição neoliberal.
Um Pierre Bourdieu etnógrafo, que registrou na segunda metade dos anos 1950 a Argélia e sua população, ainda sob o domínio francês. A etnografia da dominação colonial possibilita, 60 anos mais tarde, uma interpretação dos nossos tempos de perdição neoliberal.
Schultheis, Franz; Frisinghelli, Christine. Pierre Bourdieu en Argélia - Imagenes del desarraigo. Madrid: Círculo de Bellas Artes, 2011.
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