31 julho 2019

Decomposição e silêncio

1a. Caminhada do Silêncio, Parque do Ibirapuera, 2018

Vivemos um tempo nevoento, cujos propósitos de uma estratégia pérfida estão postos e em franco desenvolvimento. À volta, silêncio e ignomínia, que consolidam a desfaçatez habilmente estruturada, da qual levaremos décadas para dissipar, se é que será esse o desejo do povo brasileiro. A luta que se mantém parece ocorrer em uma realidade paralela, cujas demandas são ignoradas ou transformadas em fake news, termo exótico para descrever mentiras, onde a confusão social integra de modo cabal a estratégia científica de terra arrasada.

Em algum momento já se comentou sobre a nossa similaridade com a Síria, para se destruir uma nação não é necessário descarregar mísseis e bombas, o ataque pode ser furtivo contra a Constituição. Evita-se dessa maneira a destruição física da nação, o que não impede a desconstrução da moral, dos costumes e do conhecimento acumulados culturalmente. Em outras palavras, decompõem-se os vínculos sociais, descaracteriza-se a memória coletiva, implantando-se a ferro e fogo outro conjunto de crenças e comportamentos que nos fazem mais vassalos em nossa compreensão de mundo e mais suscetíveis à voragem individualista do sucesso ao alcance de todos.

Desvela-se uma nova era cientificamente construída, a era da ignorância, onde as diferenças não encontram senão conflitos, descartando-se o argumento razoável acerca do entendimento humano. Há boas e más intenções neste momento atravessado pela tábula rasa, há os inúteis que contribuem para o caldo de intrigas, há os rebeldes que se insurgem contra a miserabilidade estabelecida, há os insolentes que na falta de conhecimento, veneram o abjeto, sem que nada disso consiga nos ilustrar politicamente e, assim, nos redimir do obscurantismo em que nos metemos.



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