Penso que aos poucos, e
de modo duro e irreversível, nos distanciamos das “questões românticas” de
nosso tempo, seja em nossas possibilidades ideológicas, em nossas ocupações
funcionais, em nossas maneiras de ser no mundo. No primeiro caso, considero o
exercício da prática e da reflexão política. Considerando as pessoas da minha
geração, torna-se absurdamente anacrônico pensar nas lideranças que se forjaram
no período de independência da África, como Lumumba, Senghor, Ben Bella, que
alimentavam o imaginário terceiro-mundista dos jovens em torno de um mundo mais
justo e solidário.
O mais abstruso desse caso é observar o esforço sistêmico em
tornar anacrônico e falido pensadores muito atuais como Edward Said, Milton
Santos, Tariq Ali e políticos que mal deixaram o poder, sobretudo em nossa América
do Sul, como Lula, Kirchner, Correa. A poderosa onda neoliberal de linhagem
financeiro-empresarial lança seus dados e joga no cenário com representantes
“íntegros”, com a proposta de “governança gestora”, sem qualquer tolerância à
diversidade política, pois privilegia-se a liderança bancária, em sintonia com
os humores do chamado mercado.
No segundo caso, o
espectro de atuação profissional se restringe fortemente, estimulando-se
aquelas que igualmente estejam alinhadas aos interesses do mercado, pela
pesquisa, gestão e produção. Cada vez mais eliminam-se as ocupações que valorizam o corpo e a mente, os fundamentos do
bem-estar individual e social como a sociologia, a antropologia, a psicologia,
a filosofia, dentre outras. Entramos em um período na qual acirra-se a
concorrência, premiando-se aqueles que oferecem subsídios a esse modo de
enfrentamento funcional, de professores que aplicam seu conhecimento
valorizando as condições de mercado, a trabalhadores que se empenham em
reproduzir práticas de gestão, tudo definido pelas cartilhas neoliberais.
E por fim o terceiro caso,
talvez o mais dramático, são derrubadas a liberdade de escolha, redimensionando
nossa condição de estar no mundo. A violência não apenas física, mas
principalmente comunicativa, de grupos alinhados ao mais agressivo
neoliberalismo econômico, demonstra que uma nova moral e uma nova comunicação se
impõe, constituindo-se como voz e pensamento dessa hegemonia
financeiro-empresarial que avança.
Significa dizer, a diversidade cultural,
social, política, são colocadas em xeque por uma massa de reprodutores de conteúdos vagos, inconsequentes e imprecisos, como signos de
mudanças necessárias. Sacrifica-se a autonomia do indivíduo em nome de um “massivo
engajamento bancário” que oferece nada além de uma mínima perspectiva de
sobrevivência.
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