Mario Benedetti |
Pegadas
Nas pegadas de ida os pés se apoiam sem problema, mas nas
de volta a coisa se complica. As de ida traçam o caminho dos que se foram, por
fome, por medo ou pelas dúvidas. As de volta desenham o caminho da nostalgia ou
do desconsolo. As de ida são mais intensas, mais profundas, resultado de muitas
reflexões. As de volta são mais íntimas, desprevenidas, mais biográficas.
Tanto em umas quanto em outras, o denominador comum é a
esperança. Nas de ida, a esperança são braços e abraços, todos à distância. Nas
de volta a esperança é que a memória não promova enganos, que nos espere com os
olhos de antes, os braços de aconchego, as ruas de sempre, as árvores que não
se derrubaram.
Pegadas e pegadas, rastros e sinais, vestígios e utopias.
O mundo está para além e está aqui, os próximos contíguos e remotos.
As próximas pegadas serão novas, fresquinhas. A duras
penas criarão outro caminho e outra forma de ser e de pisar. Louvado seja o
futuro, se existe. Existirá?
(texto extraído e traduzido da obra Vivir Adrede, Santillana Ediciones, Madrid, 2009)
(texto extraído e traduzido da obra Vivir Adrede, Santillana Ediciones, Madrid, 2009)
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