28 setembro 2017

Mal-estar e repulsa à devoragem


No auditório Carlos Zara, CEU Butantã


Um sentimento desconfortável me toma de quando em quando, basta refletir sobre as circunstâncias políticas que nos envolve nestes tempos. Uma espécie de cinismo coletivo se estabelece, abrindo espaço para o oportunismo a qualquer preço, e talvez mais do que isso, a ruptura de um paradigma moral de cuidado e respeito, para que um forte anseio competitivo se instale no tecido social, eliminando o constrangimento nas relações.

Nesse sentido, compreende-se perfeitamente o papel desses autores como Theodore Dalrymple, que despertam a indiferença e o desprezo sob a chancela da responsabilidade, colaborando para que cada um esteja livre de sentimentos generosos para seguir trilhando o caminho da liberdade individual, ou digamos, liberal. Atravessamos esse tempo de falsas ousadias que mobilizam o indivíduo, como um animal voraz, para a frente, em detrimento de todo o processo histórico-cultural da sociedade. Um tempo que só alimenta os hipotéticos desafios que vêm pela frente, e de que maneira a monetização pode contribuir para se levar vantagem.
  
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Desde ontem as dores pelo corpo, o cansaço que de algum modo me traz prazer pela atividade intelectual que realizo, mas que é bem desgastante. Acrescidas às não muitas aulas semanais, tenho realizado neste semestre uma série de palestras em diversos pontos da cidade, normalmente nas periferias. Já estive no Grajaú, em São João Clímaco, São Miguel Paulista e no Butantã, sábado encerro a série indo a Santo Amaro.

O prazer se deve à discussão sobre sujeitos de direito e nessa chave, a possibilidade de discutir com educadores e educadoras da rede pública municipal a formação do Brasil, a partir dos pensadores que discuto em sala de aula, Darcy Ribeiro, Caio Prado Jr., Jessé Souza, os saraus com Sérgio Vaz, a pedagogia com Paulo Freire. Trata-se de um exercício de enfrentamento a esse estado de coisas brutal que dilapida aos poucos nossos direitos civis e trabalhistas. Mais uma vez o poder das elites dominantes, grosseiro, sem qualquer contato com a realidade cotidiana, lança seus tentáculos sobre o povo brasileiro para sugar o máximo de mais valia, ruminando sua necessidade crescente de poder.

O movimento de espoliação dos direitos do povo é universal, como se o capitalismo, acuado, necessitasse manifestar seu derradeiro esforço voraz, insano, destruidor. É desse modo que sentimos, daqui de baixo, esse tsunami potente que pretende redesenhar a civilização a partir de novos paradigmas morais, cívicos e trabalhistas. Nada parece deter essa nova ordem nascida do apetite dos conglomerados empresariais e financeiros, que a tudo devoram sem parcimônia. Se no mundo temos o fato legitimado por atores políticos cooptados pelo Capital, no caso brasileiro a destruição ganha impulso com o golpe institucional. 


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Tempo de revisitar Naomi Klein em sua obra A doutrina do choque, muito oportuno para compreender esse momento de ações intempestivas e nada democráticas perpetradas em nome da 'liberdade individual'. E conhecer o livro de Jessé Souza recém-lançado, A Elite do Atraso - da escravidão à lava-jato, para dimensionarmos a mediocridade histórica de nossa classe dominante.



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