15 julho 2016

Tempos de retrocessos e de lutas




Fica claro para o mais renitente adepto do deus pato da fiesp que o processo golpista ainda em curso nada mais é do que uma armação bem concatenada entre a velha oligarquia deste país, incrustada nos diversos espaços de poder, da política ao empresariado, da mídia à religião. O derradeiro baluarte em que se escoravam os golpistas acaba de ser derrubado pelo ministério público, as tais pedaladas fiscais. Não resta senão o discurso mal costurado de um mero rechaço ideológico das classes dominantes contra um governo que, não sendo de esquerda, também não tem adesão histórica aos velhos e ultrapassados modos de dominação.

Paulatinamente, à medida que mostra suas garras, o governo ilegítimo coloca as cartas na mesa, indicando os caminhos de sua ação política, claramente voltada para a retomada de práticas condenáveis para a manutenção do poder. Significa dizer, preservação de privilégios a uma casta politica branca, machista e sem qualquer preocupação com os interesses nacionais. Se existe um ponto em que essa massa disforme de golpistas se entende é a privatização do patrimônio público a qualquer preço, sob o argumento de um alinhamento com a cartilha mais abusada do laissez-faire, o neoliberalismo, acreditando com isso alcançar uma espécie de integração compartilhada - a verdadeira modernidade sob os auspícios do deus mercado.

Não há aí integração, mas dependência, e voltarei a essa discussão em outra postagem. Em uma recente entrevista, Dilma Rousseff afirma de modo didático que à diferença de abril de 1964, "o golpe de hoje é diferente (...) a crise que levava à ruptura na guerra fria não existe mais (...) eu não acredito que as forças oligárquicas, ou financeiras, ou midiáticas, que (o) organizaram não precisam da interferência internacional (...), e acrescenta, "(este) é um golpe parlamentar, de tipo novo, e se parece muito mais a um ataque às instituições por dentro, utilizando as suas fragilidades". Como afirma a presidenta afastada, as opções ideológicas e políticas dos golpistas internos podem "beneficiar interesses geopolíticos estranhos à nossa soberania", o que de algum modo se evidencia com a sanha entreguista de ativos públicos e os claros retrocessos propostos na seguridade social.  

É lamentável observar que as propostas do governo interino e ilegítimo, em um desastrado impulso em integrar nossa economia às benesses da mão invisível do mercado, implode conquistas e direitos adquiridos há mais de 60 anos, ainda com Getúlio Vargas. Patéticos são os esforços, por exemplo, do empresariado em suas proposições, como as 80 horas semanais, as negociações diretas, ampliação da idade de aposentadoria, redução de benefícios como o repouso e alimentação no trabalho e por aí afora. O deus pato que inspirava as manifestações da classe média na Paulista retorna com sua força devoradora, ignorando as vantagens prometidas no corte de impostos e colocando-se a serviço do capital.

O esforço desse governo aponta um recuo histórico, o de uma sociedade com os direitos similares aos de nossa república velha, com os retrocessos trabalhistas que nos reduziriam às formas organizacionais dos anos 1910, onde a luta e os embates trabalhistas simplesmente inexistiam, com a exceção das mobilizações anarquistas. Resta saber se haverá restrição aos banhos públicos e se as polainas e espartilhos retornarão como peças indispensáveis do vestuário. 

A sociedade civil se mobiliza, novas manifestações são programadas para este mês e agosto, quando haverá a possibilidade de confrontar nas ruas o projeto deste governo golpista. Sim, a saída é a rua, é a presença física de nossa indignação! Excluídas do poder, parcelas organizadas da sociedade forçosamente são levadas a condensar significantes, mobilizando-a em suas mais urgentes prioridades. Não é difícil imaginar uma renovada onda de experimentações, a consolidar experiências políticas que possam restabelecer verdadeiramente o Estado de direito em sua plenitude, longe dos aventureirismos conduzidos pelos interesses de uma envelhecida e corrupta oligarquia.

(atualizado, 19h, 15.07.2016).



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