Encontrei o conto Um ou Outro, do Lima
Barreto, citado recentemente em uma apresentação acadêmica. Apenas o folheio, detendo-me em certos parágrafos, Lima Barreto é atualíssimo e sua beleza narrativa me proporciona imenso prazer. Os detalhes não se lhe escapam ao discorrer, por exemplo, sobre o automóvel, "(...) aquela magnífica máquina, que passava pelas ruas que nem um triunfador, era bem a beleza do homem que o guiava; e, quando ela o tinha nos braços, não era bem ele quem a abraçava, era a beleza daquela máquina que punha nela ebriedade, sonho e a alegria singular da velocidade".
À tardezinha, retomei uma obra de dois grandes
jornalistas da velha guarda, Crime de Imprensa, que nos relata as estrepolias de uma mídia desgovernada e cada vez mais sem função que não os seus furibundos interesses. Textos jornalísticos que desvelam a hipocrisia, para não dizer a canalhice ardilosa, como o caso de um repórter que 'cobriu' a visita do então candidato José Serra a Tocantins, a descrever de modo vivaz "a efusiva recepção no aeroporto, os políticos que lá estão (...) (sendo arregimentados) 134 dos 139 prefeitos do Estado e os demais candidatos ao governo e ao senado em torno do tucano (...)", quando na verdade verdadeira, Serra havia cancelado o voo por causa do mau tempo, permanecendo em São Paulo para gravar seu programa eleitoral...
Mas voltemos a Lima Barreto, o frescor de seu texto e a visão crítica da realidade permitiram que os autores de Crime de Imprensa utilizassem um trecho de Recordações do Escrivão Isaías Caminha como prefácio do
livro! Saborosa indignação! E vejam como não foi favor algum: "(A Imprensa) é a mais tirânica manifestação do capitalismo e a mais terrível também... É um poder vago, sutil, impessoal, que só poucas inteligências podem colher-lhe a força e a essencial ausência da mais elementar moralidade (...)".
E assim prossegue, preciso, contundente.
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