12 janeiro 2015

Formas e conteúdos da exaustão

Savignyplatz, 2010


Passados 75 dias do segundo turno das eleições presidenciais, o embate entre vencedores e perdedores promete prosseguir acirrado, com movimentos vigorosos da oposição trabalhando para o contínuo desgaste do governo, sem que os argumentos trazidos a lume proponham o esclarecimento da população. A mídia corporativa, que nos últimos anos tem se comportado como uma espécie de porta-voz da insatisfação oposicionista, não se cansa em lançar lenha na fogueira, estimulando uma pressão incansável e muitas vezes suicida não só contra representantes do governo federal, como contra instituições de grande significação simbólica e política, como é o presente caso da Petrobras. 

As primeiras semanas após os resultados oficiais, houve uma mobilização grosseira de parcelas da sociedade civil e de políticos oposicionistas, apostando em passeatas convocadas a toque de caixa, no afã de se aproveitar uma suposta insatisfação popular contra a continuidade do PT no poder. Também nas redes sociais, viu-se uma ação agressiva e inusitada de grupos assumidamente de direita, maculando a população nordestina - mais uma vez decisiva na vitória de Dilma - e em alguns casos, apoiando o retorno do regime militar para 'colocar ordem na casa'. 

A democracia brasileira mostrou-se forte o suficiente para resistir, em todas as linhas, a tantas imposturas, que em outras épocas poderiam ser fatais. Nunca duvidei da superação desse estágio primitivo de manifestação, que se pretendia inverter a continuidade natural do processo político. As vozes grosseiras que se insurgiram, nos corredores do Congresso ou nos carros de som, calaram-se momentaneamente, esgotadas pela inconsistência de seu discurso e pela pouca adesão popular.

Os aríetes dessas demandas atabalhoadas se ancoraram, ainda uma vez, nas manchetes midiáticas. A capa de VEJA, às vésperas do segundo turno, ultrapassou o limite do bom senso jornalístico e das normas eleitorais, constituindo-se no mínimo em uma peça golpista de mau gosto. Os demais meios corporativos de algum modo respaldaram as denúncias sem comprovação, e tudo não terminou tragicamente porque, repito, alcançamos a maioridade democrática, e hoje a população consegue distinguir o joio do trigo. 

Mas certamente ficaram sequelas, difíceis de serem superadas. É certo que em São Paulo, a derrota governista foi agravada por essa conjunção de ações negativas, onde o tema de uma capa de revista se transformou em camisetas e posteres da noite para o dia. E a postura antagônica dos barões da mídia contra o governo segue em alta, sem termos a menor ideia de como isso terminará. Ao que tudo indica, o PT conseguiu resistir ao assédio midiático, com Dilma alcançando índices mais positivos do que à época das eleições. 

A grande questão que retomo, passados estes primeiros meses de tensão e fúria - e que por certo estão a ponto morto pela desmobilização social, em razão do período de férias: se não há a preocupação, por parte da mídia corporativa, em informar a sociedade pela correta e responsável intermediação dos fatos, a que serve, qual sua função social? É óbvio que não basta apenas velar por seus interesses, é preciso compreender sua importância na construção do debate político. Lamentavelmente, porém, o passo dado foi substituir o poder da informação por formas anódinas de especulação. 

Resta dizer que a palavra não se acomoda em seu sentido tosco, constituído de desejos espúrios que não encontram representação social; ela é muito mais, e por certo mais atraente e sedutora quando utilizada com sabedoria. Em outras épocas, seus efeitos embrutecidos, partindo de uma elite econômica e política, conduziram à morte o estado democrático. Hoje, felizmente, somos uma nação que consegue debochar das ultrapassadas pretensões, incapazes de retroagir os verdadeiros processos sociais.


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