13 outubro 2014

Desdobramentos



Após uma semana do primeiro turno, a sensação eleitoral me parece outra diante daquela que se verificou no domingo e mesmo nos primeiros dias subsequentes. Havia um clima de debilidade, impalpável, sem qualquer explicação racional, apenas a impressão dispersa nas ruas e canalizada nas mídias corporativas de que Aécio não só havia conseguido uma estrondosa recuperação, como já se posicionava em vantagem. Pesquisa de um instituto desconhecido do Paraná apontava vantagem de Aécio de oito pontos (49 a 41 por cento), o que depois se verificou infundado. 

A mídia eletrônica mais a impressa entrou rápido em ação e expôs em detalhes o depoimento de um ex-diretor da Petrobrás, que para amenizar sua prisão concordou com a delação premiada. Sem se provar nada, ou dar tempo para a defesa dos partidos acusados, o rolo compressor mídia + oposição trombeteou o fato de modo irresponsável, numa clara tentativa de interferir no processo eleitoral. Nestes últimos dias o caso refluiu das manchetes, não só pela reação do governo, como pela forte mobilização nas redes sociais.

Aliás é aqui, nas múltiplas plataformas digitais, que se deve decidir as eleições deste ano! Ambas as campanhas se organizam para ocupar esse espaço, com vídeos e mensagens que alcançam o cidadão comum com grande eficiência. Da parte do candidato oposicionista, vejo uma tentativa de aproximação corpo a corpo, com mensagens diretas produzidas por ele próprio e endereçadas aos milhões pelo what's aap, além de jogos eletrônicos em que o personagem não é Mario Bros mas o próprio Aécio, a vencer uma série de etapas. Se o processo dialoga diretamente com o eleitor, sobretudo com o mais jovem, ele não esclarece as plataformas políticas nem suas propostas mais genéricas. 

Ao contrário, a campanha de Dilma ao menos no facebook é rica em informações e densa em dados, que comparam o que foi o último governo tucano no Brasil e os anos de Lula e Dilma. Começam a surgir pequenos vídeos, não só com apoios, mas que discorrem sobre projetos de governo, o que me parece acertado, pois cria um diferencial de valor nas propostas de um e de outro candidato.

Hoje surgiu a primeira pesquisa Vox Populi, que coloca Dilma com 51% dos votos válidos, pouco ainda, mas que pode indicar uma tendência, e oxalá ela se confirme. Ainda é cedo, faltam 13 longos dias, e todo cuidado é pouco, pois o cerco midiático-empresarial está feito. Hoje mesmo um jornalista (Xico Sá) se demitiu da Folha por desejar expressar seu apoio a Dilma em sua coluna. O jornal argumenta que essa prática é interdita nas colunas, mas permitida na página adequada (de debates). O problema é que existem outros colunistas, como Azevedo, Constantino ou o tal do Pondé, aos quais tudo é permitido, sem qualquer cerimônia.

Penso nesse jornalismo arcaico, que parece provir das páginas amarelecidas da Primeira República, onde as elites não perdiam a voz e tampouco seus plenos direitos de expressão. E mais além, é como se os cronistas de hoje, reproduzindo os padrões burgueses de antão, impusessem à sociedade seus pontos de vista e esperando vassalagem moral. Como se os argumentos da aristocracia devessem mais uma vez prevalecer como referências para o bom devir dos valores sociais e culturais da nação. 

Há cem anos, era o ideário da Casa Grande, hoje, nada além do que um fortuito interesse de gabinete refrigerado, em conluio com os mercados corporativos. É como posso sintetizar a manutenção tresloucada de um jornalismo classista, aliado a qualquer coisa que lhe mantenha as vantagens, em um mundo hipoteticamente capitalista e competitivo.


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