Primeiro a voz feminina alertando alguém para
soltá-la, junto a um alarido intenso de outras vozes, também o automóvel
passando com o som de uma música minimalista, alto o suficiente para me
despertar e alimentar o desejo, ainda sob a madrugada escura, de retomar o
trabalho. Tal como uma troupe felliniana que atravessa o deserto em meio aos
seus destemperos, acabaram por desaparecer e o relativo silêncio voltou a
reinar. Com a possível condenação dos incompetentes gestores hídricos tucanos,
a água que se faz escassa, tomei outro banho e coloco-me a postos diante do
computador para prosseguir. Fico por aqui, querida, ao longo da jornada que não
contará com jogo do Brasil e tampouco Copa a distrair a concentração.
Sobressaem os saborosos mistérios das articulações sociais dos cosplays e dos
poetas periféricos, o corpo performático que se insinua e ganha vida em seus
respectivos movimentos. Há algo de felliniano nestes encontros coloridos,
inebriantes, mas também de camusiano na soturna elaboração pessoal de cada participante
e então me submeto à conjunção dos imaginários, agora os mágicos alentos de
Cortázar, páginas de paisagens que se sucedem, que se levantam hipotéticas ao
sabor do puro ensejo, a luz do mar que penetra a janela e nos confunde com as
brumas misteriosas de cada luar, o chiado metálico dos bondes com animados
foliões a avançar pela avenida descortinando os primeiros matizes da aurora, o
olhar peregrino dos bondosos viajantes que aportam no cais, a calma expectativa
em uma cadeira de balanço, deixando-nos um pouco mais sonhadores e felizes...
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