12 abril 2013

O Chile e a Unidade Popular



“Conquanto não conseguisse obstar a vitória da UP (Unidade Popular), o que se afigurou para Nixon como outra falha da CIA, a ‘spoiling compaign’ promovida durante anos havia produzido importantes e profundos efeitos na sociedade chilena, dentro da qual se desenvolvera agudo antagonismo de classes, que se refletiu nas eleições para a presidência. E a ‘scare campaign’, como parte da Track I, prosseguiu. O objetivo sempre foi alarmar a população e o meio empresarial, demonstrando a reação que a eleição de Allende provocaria no estrangeiro e as graves consequências para a economia do Chile, de forma a provocar o pânico financeiro, um ‘crash’, a instabilidade política, forçando os militares a intervirem para impedir a investidura de Allende na presidência do Chile”.
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Trecho desse notável e ao mesmo tempo dramático painel do Chile, nos anos da Unidade Popular (1970-1973). Com um texto denso em detalhes, avaliando sempre com muita isenção e serenidade as políticas tomadas no calor do momento pelo governo da UP, Moniz Bandeira nos mostra o passo a passo da história política e econômica desses anos turbulentos, desde o governo de Eduardo Frei, e adentrando o período Allende, simultaneamente ao quadro político na Bolívia de Juan José Torres e do Uruguai de Pacheco Areco e o movimento Tupamaro. Do Brasil, a lamentável participação do governo Médici, os comentários do embaixador Câmara Canto, atento a cada movimentação golpista, além da confirmação escancarada da participação do governo dos EUA, com base nos mais de 2.000 documentos desclassificados da CIA.

Chegar ao final desta obra grandiosa me deixa dolorosamente em suspenso, em estranho estado de comoção distanciada, repassando as feições de Allende, as horas cruciais no La Moneda, o entusiasmo do povo chileno nas imagens de Patrício Guzmán... admiração pela ousadia dos gestos decididos, desprezo pela pusilanimidade do ato final.



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