29 dezembro 2013

As partes do todo



Fazia alguns anos que não chegava por Ezeiza e quando me dei conta, estava no setor de desembarque, um saguão espremido entre um Café e quiosques e caixas eletrônicos. O imenso aeroporto estava às moscas, exceto aquele exíguo espaço, com umas cinquenta pessoas esperando alguma coisa, os derradeiros voos, a chegada de familiares, ou como eu, o último transporte rumo a Buenos Aires. O som inusual do sistema de som, ao estilo Quilapayun, vozes que entoavam solenemente uma canção popular. Não demorou e, em fila indiana, seguimos até o micro-ônibus, em um instante retomava meus pensamentos esparsos, minha lembrança desse momento seria os curtos solavancos nas entradas e saídas dos pedágios. Pensava em meu computador no bagageiro, saltitando espremido entre outras bagagens. Não era uma viagem inspirada, não tinha um programa definido, era tão somente um curto retorno, depois de quase seis meses. Só desejava chegar no hotel, tomar um banho, descansar um pouco e acordar bem cedo, para aproveitar o máximo do dia.

Foi uma jornada que me colocou em contato com os dois grandes problemas deste verão portenho, ou melhor, três, que juntos transformavam a cidade em um polvorín: o calor intenso, os cortes de energia e os bloqueios das avenidas, pelos movimentos sociais. Desde o governo Kirchner, estabeleceu-se a plena liberdade de manifestação de rua, de modo que me foi muito comum nestes últimos sete anos de visitas à Buenos Aires a expressão dos mais diversos grupos sociais ou políticos tomarem as avenidas com seus bumbos, cantorias e bandeiras. Mas desta feita, senti o exagero pois eles se multiplicaram pela cidade, bem o percebi ao percorrer as quadras centrais, Callao, Corrientes, Florida. No caminho, desgarrei-me para as livrarias e os cafés. Alcançava o tempo bondoso, como disse sem qualquer inspiração, movido pelo desejo em ver e ouvir a realidade ao redor, mesmo sob as áridas circunstâncias que se apresentavam. 


Muitos estabelecimentos, como hotéis, restaurantes e espaços de comércio, utilizavam geradores barulhentos. No hotel em que me hospedei era audível o ronronar abafado pelos vidros antiruído. Foi perceptível identificar os quarteirões sem energia no final das tardes, pelo apagão que os envolvia. A situação foi explorada pela oposição (e aqui, inclua-se os veículos midiáticos) e pelo oficialismo. De um lado, a crítica por um governo sem um projeto de desenvolvimento energético para o país, de outro, a condenação pública das duas empresas (Edesur e Edenorte) responsáveis pelo abastecimento de energia da capital. A princípio, me pareceu óbvia a incompetência de empresas que deviam cumprir com seus contratos e não o faziam. Mas os embates transcendiam o problema, avançando para o custo de vida, inflação, inapetência governamental. 

O turbilhão midiático mais uma vez explorando politicamente as fragilidades escancaradas do que chamam governo K. Posteriormente, em um texto do Le Monde Diplomatique Brasil, assinado por Roberto Reyna, encontrei um bom argumento sobre as posturas recentes em especial do grupo Clarín. Em permanente confronto contra a Ley de Medios, Reyna afirma que A linha editorial do jornal Clarín (...) (tornou-se) mais errática e com um tom fortemente agressivo em relação ao governo. Utilizando discurso semelhante ao utilizado pela mídia hegemônica aqui no Brasil, o conglomerado midiático argentino assume sua posição editorial como a única voz crítica existente no país, como se isso justificasse o tom oposicionista.

O que sobressai é o desgaste. Segundo o Instituto Verificador de Circulaciones, em dois anos (2010-2012) o jornal perdeu um quinto de seus leitores. Para Reyna, o cidadão se vê em meio a um confronto sem fim, perdendo em parte o interesse pela prática política: A notícia, como matéria-prima básica da tarefa do jornalista, tornou-se um bem escasso e o principal prejudicado foi o cidadão, que passou a não ter acesso a dados imprescindíveis para formar opinião. De outro lado, tenho visto em alguns momentos que o jornalismo pró-governo se perde no enredado de suas avaliações, tornando-se igualmente desinteressante para o público. Algumas sessões recentes do programa 6,7,8, que no seu momento inicial surgiu como um saudável contraponto às opiniões hegemônicas da mídia, me pareceram por demais panfletários, perdidos em sua causa. 

Seja como for, há algo mais no ar, em torno do debate entre mídias em nossa Latinoamérica, e que certamente não explorarei aqui, mas deixo indicado: a formulação de um discurso forçosamente desgastante, com propostas ideológicas distintas, uma (a dos conglomerados privados) a forçar o cansaço da opinião pública e assim abrir um flanco para explorar futuros ganhos políticos; outra (oficialismo) manter a ferro e fogo um discurso de defesa em nome das conquistas populares - no caso argentino, associando à tradição do peronismo - apostando na preservação do poder.  


Minhas experiências desta feita me pareceram lânguidas, um pouco influenciadas pelo que me pareceu o 'espírito de final de ano' dos portenhos, ou seja, um desinteresse crônico, um estar-aí voltado essencialmente para o consumo. Cheguei antes das grandes levas natalinas de turistas (brasileiros), e o calor certamente contribuiu para o notável refluxo nos espaços públicos, com alguma exceção nas áreas tradicionais de compras, as Galerias Pacífico, a Florida, a Santa Fé.

Em uma das noites, acompanhei na TV pública (Canal Encuentro) uma entrevista de Roberto Rossellini a Joaquín Soler Serrano, pela RTVE.es realizada em 1976 ou 1977. Serrano formulava suas competente abordagem sobre o percurso do cineasta em espanhol, e Rossellini respondia em italiano. Mesmo que a conversa não estivesse legendada, seria muito fácil compreender o mestre, O realismo é sempre uma questão sobre a posição do homem em relação à vida, do homem em relação à sociedade, do homem em relação à realidade das coisas, não?



Tamanha foi a impressão que me causou o formato e a qualidade da entrevista, que mais tarde procurei por outras, encontrando uma esclarecedora entrevista do escritor Ernesto Sábato, propondo como saída para este mesmo homem tematizado por Rossellini, um novo projeto comunitário, em que prevalecem os valores e o espírito do convívio humano. Dois nobres artistas de nosso tempo, pensando humildemente suas obras, voltadas não para o sucesso, mas para os desígnios do ser humano.  

Deslizei por sob as sombras das marquises, ainda que o incômodo climático estivesse quase insuportável apenas no primeiro dia, terça-feira, com sensação térmica em torno dos 40 graus. Foi a desculpa para me enfurnar principalmente nas livrarias e ali esquecer do tempo. Reencontrei uma obra que desde minha última visita à cidade (julho) me solicitava, o ótimo La extraña no-muerte del neoliberalismo, de Colin Crouch, e em minha leitura randômica, é possível que tenha encontrado uma explicação para a crise energética portenha:

(...) em muitas privatizações, as parcerias público-privadas incorporam as empresas privadas ao tempo que limitam o papel do mercado, demonstrando uma vez mais o cerne da política neoliberal, cada vez mais (voltada) para as empresas do que para os mercados. Enquanto durar o contrato, a autoridade pública contratante perde sua possibilidade de exercer seu poder como cliente, e não há necessariamente um elemento de opção de mercado para o consumidor final, usuário do serviço. O cliente da empresa contratada é a autoridade pública que adjudicou o contrato. A empresa contratada não possui nenhuma relação de mercado com os usuários, enquanto que o público também perde seu direito 'cidadão' de reclamar à autoridade pública, pois esta já não é responsável pelos detalhes da prestação de serviços.  

Neste retorno nada de literatura, apenas referências bibliográficas em sociologia e comunicação, como o interessante Fans, Blogueros y Videojuegos, de Henry Jenkins, ferramenta destacada para a pesquisa em que participo sobre cosplays. Um trecho sugestivo:

Os fans são caçadores inquietos e furtivos que roubam apenas aquilo que realmente amam (...). Ao abraçar os textos populares, os fans reivindicam tais textos como seus, refazendo-os à sua imagem e semelhança, forçando-os a responder às suas necessidades e a satisfazer seus desejos. As fans convertem Star Treck em cultura feminina, transformando-a de ópera espacial em novela romântica feminina, de maneira que sacam à superfície o contratexto feminino no escrito que se oculta nas margens do texto masculino escrito. (...) O consumo torna-se produção; a leitura torna-se escritura; a cultura do espectador torna-se cultura participativa. 


Uma visita às Madres de Mayo, na Hipólito Irigoyen, como não poderia deixar de ser. O espaço permanece convidativo, sempre com novos painéis ou ambientes, saudando o peronismo kirchnerista pelo grande apoio que tanto Néstor quanto Cristina empenharam à causa dos desaparecidos políticos e pela responsabilidade dos culpados. De certo modo continuo me sentindo bem ao visitar o local, por reconhecer em ambos governos uma recuperação dos direitos sociais e trabalhistas na Argentina. A livraria, embora menos abundante que em outros tempos, continua a atrair, principalmente com títulos sobre a história social. As mesas normalmente estão disponíveis para que o visitante permaneça lendo ou escrevendo, enquanto degusta un cortado con empanada


Ainda sobre a questão dos desaparecidos, é comum abrirmos o Página 12 e encontrarmos notas de familiares e amigos dos desaparecidos políticos, normalmente na data natalícia do sequestro. Como no dia 21, o caso de Gerardo Alvarez, a chama que não se apaga:

A 36 años de tu secuestro y desaparición, tus compañeros de militancia exigimos justicia y castigo para tus verdugos. No perdonamos, no nos reconciliamos, exigimos cárcel y castigo a los genocidas.

.....

Tinha pensado em uma nota sobre minhas impressões gerais desta espacialidade central de Buenos Aires, espaço de grandes decisões políticas, de inúmeros encontros poéticos, de fecunda inspiração musical. A brevidade desta passagem não me permite um aprofundamento diferenciado em relação a outras visitas. Posso agregar, porém, uma percepção muito vaga, que me surge de um olhar distanciado, a de que as disputas políticas entre oposição e oficialismo desagregam tanto o espírito cívico como a forma estética da cidade. 

A cada retorno, e eles ocorrem com regularidade nestes últimos sete anos, constato perdas cumulativas em seus mais diversos significados. Como descrever sucintamente estas impressões? Não são robustas o suficiente para traduzir-se em palavras, de modo que prefiro defini-las como sensações, sentimentos que brotam em mim com o desejo de justificar o mundo que capturo. Sensações que por mais angustiadas, não modificam meu afeto pela cidade, por suas representações históricas, políticas e culturais. 
   



08 dezembro 2013

Um outro Rio



Uma destas situações em que não incorporamos devidamente os sons e os gestos do lugar, passamos por ele sem sentir, sem saborear. Eram pouco mais de onze horas da manhã e embarcava para o Rio, cidade mágica, para uma entrevista no Iuperj, uma bolsa de pós-doc. Levei o mínimo suficiente, minha pasta com um netbook, as provas do dia a serem corrigidas, meu projeto de pesquisa e um pequeno caderno, para eventuais anotações. Um salto alucinado, mal chegaria, já estaria retornando. Tomei as precauções de reservar as passagens para horários amplos, ir pela manhã, voltar à noite, sendo que a banca ocorreria no meio da tarde. 

Desembarquei pouco após o meio-dia, tomei o Premium, o ônibus especial que liga o Galeão ao Santos Dumont e lá me fui, com boa margem de tempo, avançando pelo trânsito caótico da avenida Brasil e Presidente Vargas. O dia estava generoso, aberto, mais de trinta graus, mas eu percorria um outro Rio, longe do mar, do azul, da poesia visual... Nem sentia a temperatura local, amenizada pelo ar condicionado do veículo. Avançávamos lentamente, as reformas na região portuária nos seguravam em meio a uma paisagem de veículos, de poeira, ingrata, tão parecida com qualquer grande cidade, um Rio em preto e branco. 

Desci próximo à Candelária restando menos de trinta minutos para a entrevista. O prédio do Iuperj é bem ao lado, fiz o trajeto de duzentos metros caminhando lentamente, no meio do caminho, a avenida Rio Branco. Comprei um saquinho de caju e com a pasta a tiracolo, cheguei à esquina histórica. Um trânsito infernal, muitos coletivos com diversos destinos, a ausência de faixa de pedestre, atravessei aos bocados, quando o vermelho conteve o fluxo da antiga avenida Central. Foi meu primeiro momento de satisfação por sentir-me no Rio, ainda que de modo efêmero. Ao cruzar a pista da Rio Branco, pude desvelá-la em perspectiva, imaginando a Cinelândia e mais além, o aterro do Flamengo e o mar.

Antes de subir até o sexto andar do prédio número 7 da Praça Pio X, tive um tempinho para ir até o agradável espaço do Banco do Brasil e tomar um café. Quando cheguei ao sexto andar, ainda aguardei por meia hora até o início da minha entrevista, quatro andares acima, na reitoria. No corredor de espera, encontrei uma doutora que participaria do concurso como eu, mas em Relações Internacionais. Conversamos sem pressa, ela expressando-se segura em seus argumentos, em um tom baixo e suave, relatando-me circunstâncias da política externa do Brasil, em especial voltada para os direitos humanos, tema de seu doutorado. Logo chegou seu marido, um homenzarrão jovem, advogado, de modos e olhares cuidadosos, porém aberto a uma boa conversa. Ela é chamada e ficamos, eu e ele conversando sobre concursos, política, Milton Santos... 

Sou convocado a ir ao décimo andar, e lá ainda aguardo alguns minutos antes de me posicionar diante da mesa. O processo durou mais do que as vezes anteriores e foi mais consistente, tanto nas indagações quanto em minhas falas. Falei um bocado das periferias paulistanas, da Cooperifa, dos jovens e suas oficinas culturais, Sérgio Vaz, Ferréz, Alan da Rosa, os saraus, tudo surgiu à baila, num jorro saboroso e terno, e meus argumentos fluíam como minha passagem no Rio, rápida, atenta, carregada de desejos, e só percebi que tocou um ponto sensível em meus examinadores quando falei da Semana de Antropofagia Periférica, Oswald nas margens! Um deles cutucou o outro dizendo, 'viu, antropofagia...', como se eu tivesse falado a palavra mágica.

Despedimo-nos mais uma vez entre sorrisos e sem sair do prédio, procurei um espaço live no andar para a correção das provas, que tinha de lançar no sistema naquele mesmo dia. Recebeu-me uma jovem estudante, que me ofereceu um canto confortável, na sala que me pareceu uma parte da biblioteca do instituto. Avancei bem nas correções e de quando em quando me detinha para olhar através da janela ao meu lado, divisando em cheio a Candelária, por um ângulo inédito, de cima para baixo, tão próxima e tão histórica, com um ar abatido pelas pixações. Intervalos em que também refletia sobre a presença negra no Rio, tão perceptível, tão natural e simpática, em todos os momentos, a presença incorporada como de fato deve ser, coexistindo sem dramas com a parte branca e com os ritmos da cidade. A jovem doutora na antessala, a estudante que me recebeu na biblioteca, os jovens retornando comigo ao Galeão, profissionais bem remunerados, comunicando-se em inglês com turistas, vivendo plenamente a vida social, sem as reservas que identifico regularmente em minha cidade... 

Faltavam umas dez provas e decidi iniciar a volta. Caminhei até frente do hotel Guanabara, na Presidente Vargas e aguardei no ponto comum a todos os ônibus, o conhecido Premium, conduções metálicas azuis e nada especiais no conforto, como sugere o nome, a não ser pelo preço majorado, 11 reais. Comprei dois pacotinhos de amendoim na banca em frente e após longa espera, surgiu o coletivo. Embarque para logo em seguida o desembarque: a máquina pifou. Saímos todos, sob o sol escaldante, sob os ruídos incessantes, para muitos papos animados, e depois embarcar em um outro veículo e prosseguir até o aeroporto. No retorno não revi o Corcovado, que na chegada me alimentou o imaginário, confirmando-me como um dos poucos ícones a serem apreciados nesta furtiva visita...

Eram mais de 19h e estava de volta ao Galeão, minha primeira vez ali. Nenhuma simpatia, o lugar está submerso em reformas, o que fez minha espera de duas horas um pequeno martírio sonoro. Retomei as provas que faltavam, o cansaço começou a me reter os movimentos e os pensamentos. Só me restava fragmentos, as imagens da bela mulher da minha vida, a possibilidade de trabalhar no Rio, os desejos de um convívio prazenteiro... Demorou para que, por fim, pudesse me sentar na poltrona do avião e relaxar. Ainda esperaríamos outro tanto, pois um dos passageiros passou mal e se retirou, e com ele suas bagagens já embarcadas.

Foi mais um desses voos discretos, em que mal temos tempo de pensar na vida, meros quarenta minutos, é o que me distancia do Rio e de tantas diferenças culturais! Ainda tive de fazer um derradeiro esforço nesse movimento alucinado e sem pausa, para encontrar um local e lançar as notas, pois não teria tempo de chegar em casa e encontrar o sistema aberto. Na Paulista, ao descer do ônibus, o nosso 'Premium', entrei em um hotel e solicitei permissão para utilizar o wi-fi, bendita solução digital. Foi então que pude utilizar, pela única vez, meu notebook e aos poucos registrar uma a uma as notas dos alunos, em meio a vagos pensamentos.   


30 novembro 2013

Meus encontros com Berlim

A porta de Brandemburgo do lado comunista, 1989


A primeira vez em Berlim foi no verão de 1989, quatro meses antes da queda do muro. Cheguei por volta das cinco horas da manhã, com claridade suficiente para me impressionar com as muralhas cercando a cidade. Minhas anotações de viagem são por demais contidas e sem graça,

"Por que Berlim me recebe com esta chuva ingrata? Por que nesta primeira vez as coisas têm de sair tão mal? Chove, e como não bastasse isso, um céu cinzento, carregado, promete dar a tônica do dia. Estou preso no Café Haussner, esquina da Hardenbergstrasse com a Joachimstaler Str. e tendo poucas horas apenas para ver algo desta cidade tão especial. Às 8:23 parte um trem para Viena e estou propenso a tomá-lo. Se der, depois volto aqui".

Não tinha a intensão de ficar, estava por demais incomodado, a cidade não me fazia bem. No trem, cruzando o território alemão oriental, fui abordado por policiais da aduana, que me cobravam o visto de passagem. Questionei, resisti até me ameaçarem colocar para fora do trem. Depois a incerteza, não sabia de albergues ou hotéis baratos que me acomodassem por uns dias. Mas não queria ficar. Ou pensava em retornar mais tarde, ao final daquela que seria uma longa viagem de dois meses e meio pela Europa. Só quando tomei o trem para Viena, no final da tarde, escrevi mais tranquilo, 




"Berlim é uma coisa incrível, algo que foge a uma explicação racional. O tempo melhorou muito e deu para ir da estação até a famosa Kaiser Wilhelm-Gedächtniskirche, ou o que restou dela, e depois passar ao largo do Zoológico, até a majestosa Str. 17 de Juni, que seria a continuação natural (não fosse o muro) da Unter den Linden. Subi até o topo da Grosser Stern, a coluna do triunfo, que ainda guarda marcas da guerra, e continuando pela 17 Juni, fui até a Porta de Brandenburgo. Caminhando-se um pouco mais, acompanhando o muro, chega-se fácil ao Reichstag, bem machucado pela ação do incêndio e das bombas e balaços que recebeu. Está transformado num museu que registra de modo didático toda a história política alemã, a partir do século XIX. Registrei bem estes poucos momentos na ex-capital cultural européia com fotos. E me dei conta posteriormente que, ao caminhar pela 17 Juni eu atravessava o maravilhoso Tiergarten, um imenso parque que abrange (a parte sul de) toda esta região. Em seis horas rodei os pontos principais desta cidade diferente. Tanto à margem do Spree, o rio que corta a cidade, como defronte da Porta de Brandenburgo, tive uma visão do lado de lá. O lado de lá que deveria ser o mesmo lado que o daqui. Eu, como as pessoas que olhavam em silêncio, tivemos um instante de total impotência e porque não dizer, de tristeza".









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Meu retorno se deu um ano e meio mais tarde, em fevereiro de 1991, encontrando uma cidade livre do muro, cinzenta, com amplos espaços vazios na região central, pouquíssimos turistas e viajantes. Desta feita fiquei cinco dias, circulava à vontade entre o que fora o lado ocidental e o oriental. Estava impregnado pelo filme Asas do Desejo, de Wim Wenders, e reproduzi alguns percursos inspirado por diversas cenas. Optei por tomar imagens sucessivas, que uma vez reveladas, poderiam se sobrepor e oferecer uma impressão panorâmica. Aqui reproduzo imagens isoladas, e dois pequenos clipes sobre essas junções fotográficas. Não foram feitos registros escritos, estava por demais extasiado com o retorno à cidade, queria percorrê-la e senti-la no momento, recuperando de certa forma a oportunidade perdida na rápida visita anterior. 




Fiz registros de vários ângulos possíveis, de diversos locais que antes da guerra eram por demais conhecidos e frequentados, lugares emblemáticos para mim, conhecidos em leituras de história da cidade. Como por exemplo, ainda a Porta de Brandemburgo. Abaixo, uma incrível coincidência, minha foto tirada quando estava a caminho da Potsdamerplatz




Sessenta anos antes, um fotógrafo alemão teve a ideia de enquadrar a cena de um mesmíssimo ponto de vista que o meu...




Falar de amplos espaços desocupados não dá a dimensão do real; em pleno centro histórico (Brandemburgo perdido imperceptível ao fundo), dirigindo-me à Leipzigerstrasse voltei-me por um instante, para o registro de um tempo e espaço que se dissolviam em meio às brumas da manhã. O silêncio expectante me abraçava, prosseguia em meio à brisa fria e aos fantasmas da história, ausência pura, o preço das loucuras megalômanas, o desconsolo das perdas... 




ao contrário do que fora um dia a cidade de Ruttman, de Joseph Roth, os sons das engrenagens, o alarido das gentes, substituídos pelo clamor do velho do filme Asas do Desejo, "Onde está a Potsdamerplatz?"...




As máquinas e equipamentos da reconstrução mal se instalavam em 1991 na paisagem lunar do que um dia fora a vibrante Potsdamerplatz... o oposto daquela descrita por Roth nos anos 1920, "Um ruído plangente, a corneta de um policial, dava ordens para seguir e frear, um aglomerado de bondes carros que se acotovelavam, o cintilar de cores, um matiz barulhento, cheio de bramidos e rugidos, gritos vermelhos, amarelos e violeta." 




um pouco mais além, os restos da Estação Anhalter, como que esquecidos pela guerra e pela continuidade da vida...




Ainda era tempo dos Trabants, carrinhos populares produzidos na antiga Alemanha Oriental, com um ar simpático e nada saudoso 




Foi uma viagem em que decidi montar painéis fotográficos, com minha pequena câmera Kodak, dando dimensão aos espaços vazios e moribundos, prestes a serem especulados e preenchidos, primeiro ao redor do Porta de Brandemburgo, ainda desacostumada com a ausência do muro...




Depois um trecho da Kurfürstendamm, ou apenas Ku'damm, com seu brilho de sempre, de algum modo preservada em sua vivacidade, próxima da primavera...




Prosseguindo agora por outra direção, construindo a montagem da narrativa a partir do vazio profundo, avançando pela histórica Unter dem Linden, mesmo ali foi difícil encontrar alguém que me fotografasse, capturando o fundo da cidade, já na perspectiva da Alexanderplatz...  solidão insólita, irreal, presente em todos os cantos, estranhamente comum nesses tempos de pós reunificação...



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Regressaria a Berlim apenas dez anos mais tarde, no penúltimo dia de 2001, a cidade mais adensada em seu centro histórico, as gentes nas ruas, a percepção de uma cidade integrada.




Pela primeira vez, assestava minha câmera de maneira mais curiosa para a Gëdachtniskirche, outro dos símbolos berlinenses em pedaços, preservados da guerra. 




A Porta de Brandemburgo estava recoberta com o painel abaixo, em razão das festividades que ocorreriam na 17 Juni.




Os caminhos das cercanias do Tiergarten, agora congelados, mais uma vez percorridos...




A Potsdamerplatz recuperada urbanisticamente, bem diferente de 1991, com amplos edifícios, áreas de lazer, novos espaços para o consumo, abaixo uma perspectiva da Leipzigerstrasse. Faria uma breve anotação digital,

"Quando se fala de transformações em Berlim, no plano arquitetônico, devemos considerar basicamente o trecho que vai da praça Potsdamer até a praça Alexander, isso numa consideração geral. Vejo especificamente neste trecho algumas fortes intervenções urbanísticas, embora ainda incompletas. Talvez ainda sejam necessários outros dez anos para que as transformações ocorram de modo completo, integrando o eixo leste-oeste. Por ora, os canteiros de obras prosseguem, uma ansiosa e exasperada reconstrução do centro pulsante desta bela capital... Aos bocados, a Potsdamerplatz ressurge, menos graciosa, mais moderna... perdas e ganhos". 



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Mais oito anos, e dois dias antes do Ano Novo de 2010 lá estava de volta, talvez não apaixonado pela cidade, mas com o desejo irrefreável de revê-la, de observar o complemento das mudanças, seu assentamento mais orgânico e quem sabe, passar outra ótima passagem de ano. Fiquei instalado en las afueras de la ciudad, nas proximidades de Charlottenburg, em um pequeno hotel (pela primeira vez fora de um albergue...) na Kantstrasse.




O frio a penetrar os ossos, mas ainda assim, as pessoas nas ruas, a cidade receptiva, comemorando vinte anos de fim do muro




a Gëdachtniskirche mais próxima, aquecendo-me com o vinho quente das tendas ao redor, 




Retornando à Anhalter, a "estação de nome engraçado", nas palavras de Peter Falk em Asas do Desejo, outro caco sobrevivente dos bombardeios, outra das tantas perdas estúpidas que a cidade sofreu... Neste dia, ela significava o destino de um longo percurso,  




..."Venho caminhando desde a Ku'damm, via Lützowstrasse, passei pela Potsdamerplatz, e agora encontro-me no museu da Comunicação, em seu simpático Café (...)"







"Uma paisagem diferente, um olhar insatisfeito, um movimento inusitado, a velhinha com seu cão teimoso, o casal que é salpicado de neve derretida por um motorista imprudente e reage com um sorriso duplo, de compreensão... se posso juntar alguns desses detalhes ao final de cada dia, sinto-me feliz (...)". 

a Berlim de tantos ângulos, de espaços renovados, muitos a serem revistos... 




... outros tantos a serem descobertos, ainda que sob a neve profunda... 











10 novembro 2013

Tempo, Memória, Ausência



Pronto, lá se foi meu irmão. Mais uma vez, e a cada vez, de um jeito diferente, a deixar um rastro de memória, o gosto amargo de um adeus com uma vaga sugestão de reencontro. Vejo sua partida não mais como antes, quando via graça em seus movimentos imprevisíveis. Desta feita ela vem um pouco mais dolorida, porque o imprevisível não mais se oferece fartamente no horizonte, porque no lugar das extensões infinitas, das dispersões ao sabor do vento, passamos a abraçar os gestos presentes e duradouros. Se antes nos aprazia o ato vago da busca imprecisa, agora e cada vez mais saboreamos o que restam das lembranças marcantes, um olhar oblíquo, uma frase solta, um silêncio mais prolongado, aquilo que permanece em nome da falta.

Em outras palavras, o tempo insiste em fluir em sua expressão devoradora, enquanto alimentamos o calor da ausência, imerso em desconjuntada sucessão de presentes, a projetar nossas vagas esperanças. A memória postula-se, ávida, pelas contingências palpáveis, infatigável fonte de mistérios e emoções, enquanto, paradoxalmente, se predispõe ao esquecimento. Ao exercitarmos saudosas recordações, ao desvelar nossa condição de vir a ser o passado, de algum modo retomamos as referências mais significativas, sacrificando diáfanas impressões, os ensejos moderados, as dores correntes, sem jamais recuperarmos o mesmo ter sido que é, o que pode ser trágico, embora nada que se compare, ao final das contas, com a consciência da ausência indesejada.

(modificado em 06.05.2017, após mais uma despedida de meu irmão; atualizado em 22.04.2018)



05 novembro 2013

Poesia 11



Perdição
(descontinuidade ontológica)

  
a incongruência humana
posta
não pela finitude do ser
(mais do que anunciada)
mas pela pregnância
dos belos momentos
jamais previstos
e
insipidamente apreciados


(mar. 2000)


24 outubro 2013

14 outubro 2013

Continuidade dos parques


por Julio Cortázar


Havia começado a ler a novela uns dias antes. Abandonou-a pelos negócios urgentes, retomou-a quando regressava de trem à fazenda; se deixava envolver lentamente pela trama, pelo desenho dos personagens. Nessa tarde, depois de escrever uma carta ao seu representante e discutir com o mordomo uma questão de contratos, voltou ao livro sob a tranquilidade do estúdio que se abria ao parque de carvalhos. Recostado em sua poltrona favorita, de costas para a porta que o havia molestado com a irritante possibilidade de intrusões, deixou que sua mão esquerda acariciasse de ora em vez o veludo verde e se pôs a ler os últimos capítulos. 

Sua memória retinha sem esforço os nomes e as imagens dos protagonistas; a ilusão romanesca tomou-o logo em seguida. Gozava do prazer quase perverso de ir se apartando linha a linha do que o rodeava, sentindo assim que sua cabeça descansava comodamente no veludo da poltrona de alto recosto, que os cigarros seguiam ao alcance da mão, que mais além das amplas janelas dançava o ar do entardecer sob os carvalhos. Palavra por palavra, absorvido pela sórdida opção dos heróis, entregava-se às imagens que se organizavam e adquiriam cor e movimento, foi testemunho do último encontro na cabana da montanha. 

Primeiro entrava a mulher, receosa; agora chegava o amante, rosto ferido pelo chicotaço de uma ramagem. Ela estancava carinhosamente o sangue com seus beijos, ele porém rechaçava as carícias, não tinha vindo para repetir as cerimônias de uma paixão secreta, protegida por um mundo de folhas secas e caminhos furtivos. O punhal se aninhava contra seu peito, e por baixo bradava a liberdade ocultada. Um diálogo ofegante corria pelas páginas como um caudal de serpentes, e se sentia que tudo estava decidido desde sempre. Mesmo estas carícias que enredavam o corpo do amante como desejando retê-lo e dissuadi-lo desenhavam abominavelmente a figura de outro corpo que era necessário destruir. Nada havia sido esquecido: pretextos, acasos, possíveis equívocos. A partir desta hora cada instante tinha seu emprego minuciosamente atribuído. O duplo repasse despiedoso se interrompia apenas para que uma mão acariciasse o rosto. Começava a anoitecer.

Sem que se olhassem, atados rigidamente à tarefa que os esperava, separaram-se na porta da cabana. Ela devia seguir pelo caminho que dava ao norte. Desde a senda oposta ele se voltou um instante para vê-la correr com os cabelos soltos. Correu por sua vez, protegendo-se sob as árvores e as sebes, até distinguir através da bruma rosácea do crepúsculo a alameda que conduzia à casa. Os cães não deviam ladrar, e não ladraram. O mordomo não estaria a esta hora, e não estava. 

Subiu os três degraus da varanda e entrou. Com o sangue galopando em seus ouvidos, alcançavam-lhe as palavras da mulher: primeiro uma sala azul, depois uma galeria, uma escada atapetada. No alto, duas portas. Ninguém no primeiro cômodo, ninguém no segundo. A porta da sala, e então o punhal na mão, a luz das grandes janelas, o alto recosto de uma poltrona de veludo verde, a cabeça do homem na poltrona lendo um romance.

(extraído e traduzido da obra Final del Juego, Buenos Aires: Santillana Ediciones Generales, 2008) 


05 outubro 2013

Chá nas Montanhas

Paul Bowles (1910-1999)


Ao que me recordo, acabei conhecendo o Marrocos antes de conhecer o filme de Bertolucci, O Céu que nos Protege, que por sua vez, acabaria me conduzindo ao escritor Paul Bowles. Uma sucessão de magníficos achados, pois minha proposta de viagem de algum modo coincidia com o espírito da aventura dos protagonistas do romance de Bowles. Lançava-me ao desconhecido, não como turista, mas como viajante, como um geógrafo prestes a se formar, desejoso por contatar culturas diversas. O projeto era ambicioso, previa juntamente com um amigo percorrer o Marrocos, Argélia e Tunísia, mas para meu desconsolo não passei de Oujda, no extremo leste marroquino, dali, então, seguindo para a Espanha.

Ao me deparar posteriormente com a beleza da fotografia do filme de Bertolucci, recuperei mentalmente as cenas urbanas vividas em Tânger e a luminosidade terracota de Marrakech, a meio caminho entre o oceano e Ouarzazate, às portas do deserto. A entrega da personagem vivida por Debra Winger foi naturalmente mais intensa que a minha, fazendo com que eu me ligasse às suas experiências profundas, com todas aquelas forças enigmáticas do Saara. 

Minha admiração por esse espaço geográfico e por sua população se multiplicou, entrou em ação o imaginário alimentado pelas sequências fílmicas e mais tarde, pelos escritos de Paul Bowles. Perguntava-me como um escritor estadunidense podia 'escapar' para um universo imerso em pura sensibilidade e oferecer um texto tão denso e sem visões preconcebidas. Na aproximação de seus escritos, descobri um autor que conseguia expressar técnica e beleza, produzindo relatos de rara acuidade a partir de suas vivências culturais.


Tudo isso para revelar a razão deste blog chamar-se Chá nas Montanhas. Há exatos cinco anos, no desejo de retomar os relatos nas redes sociais, comecei este trabalho que perdura até hoje, e não tive dúvidas em nomeá-lo com o título de um dos livros de Paul Bowles que mais aprecio. Dentre um elenco de belíssimas narrativas, ali se encontra o conto que originou o romance O Céu que nos Protege, o desconcertante A Distant Episode (Um Episódio Distante). 

Sinto-me feliz em ter alcançado este tempo de atividade contínua em rede. Não foi fácil, mas confesso que tem sido um desafio interessante, que se renova a cada dia. O blog me alimentou nos momentos de pouca inspiração, estimulando-me a pensar e produzir novos temas, a conhecer e transcrever os mais diversos autores. Já são quase 400 postagens, com mais de 8.500 visitas nestes cinco anos. 

Que o trabalho perdure, e que possa contar sempre com a presença de todos vocês, caros leitores.



04 outubro 2013

Sobre os passos indispensáveis

Com Jerusa, Unesp, Franca, 2013

Os esforços acabam sendo de grande valia, quando compreendemos a necessidade de um propósito. No caso, a prova de hoje, com aquela sala complicada mostrou-me ao final das contas a didática a ser buscada. A uma certa altura, resolvi caminhar pela sala, por entre os grupos, pois vi que estendiam exageradamente o tempo de prova. Optei livremente por perguntar como iam e diante de uma ou outra dúvida, propunha didaticamente uma reflexão, contornando o problema, mas deixando-o ao alcance dos olhos e do coração. Foi incrível como demonstraram vividamente romper com os impasses, de algum modo avançando na escritura. 

Um aluno me chamou a atenção, Ernesto, o mais chato e desagradável da sala. Consultou-me sobre seu percurso na resposta e lhe fiz ver a projeção da teoria de Bauman na realidade. Desenhei (sim, desenhei) um conjunto de guetificações miseráveis e de luxo, nomeando-as devagar, olhando-o com firmeza, com a conhecida firmeza guevarista, endurecida pero con ternura, indagando-lhe se não era como via e sentia a cidade. Ele me acompanhou atento e ao final expressou-se com uma luminosidade convincente, dizendo que agora era possível entender a proposta do Bauman. Voltou para a carteira e respondeu a questão, que ao final das contas, me pareceu bem resolvida. E assim foi com um conjunto de outros alunos, sem oferecer respostas objetivas, mas conversando sobre os temas, indagando-lhes sobre o entendimento das coisas.

Um a um foi se retirando, com aquela consciência (ou impressão) de que tinham capturado o que não conseguiam antes fazer ideia. Ainda assim saíram preocupados, mas com uma leveza para eles mesmos, inesperada. De minha parte, nunca uma prova me pareceu um instrumento tão propositivo e eficiente para fazê-los avançar sobre um adorável enigma. Fomos a última sala a deixar o andar, e de algum modo percebi a necessidade do esforço pedagógico, ainda que em um momento supostamente indevido. Sei lá, qual é o tempo definido para o aprendizado e compreensão das coisas? Eu os tinha (na verdade, ainda os tenho...) como desinteressados sem causa, mas por um momento pude perceber que uma atenção mais intensa e cuidadosa pode ao menos amenizar tensões insuperáveis. Um dos alunos me indagou sobre o que era esse estranhamento diante de uma cultura distinta, que Laplantine tão lindamente aborda em seu texto. 

E conversamos largamente sobre isso. Outros participaram, e ouviram, e comentaram cada qual à sua maneira, a voz que se articula e que se faz ouvir! Não lhes dei respostas, apenas propus caminhos para um desejo de ir mais além dos horizontes conhecidos. Avançar por veredas difíceis, mas construtivas, sem receios, e promover a eliminação do medo, dos preconceitos sobre o desconhecido. Tudo pode parecer um longo percurso sem atalhos, mas sinto a necessidade de descobrir quem são aqueles alunos, e por algum caminho fazer cumprir os desígnios de uma escolha, ou seja, contribuir para uma discussão que faça despertar as dúvidas, sem deixar de estimular a confiança.

(Uma versão expandida deste texto encontra-se na revista digital VilaFlorhttp://www.vilaflor.art.br/edicao-03/marco-antonio-bin.php)