Com Jerusa, Unesp, Franca, 2013 |
Os
esforços acabam sendo de grande valia, quando compreendemos a necessidade de um
propósito. No caso, a prova de hoje, com aquela sala complicada mostrou-me ao
final das contas a didática a ser buscada. A uma certa altura, resolvi caminhar
pela sala, por entre os grupos, pois vi que estendiam exageradamente o tempo de
prova. Optei livremente por perguntar como iam e diante de uma ou outra dúvida,
propunha didaticamente uma reflexão, contornando o problema, mas deixando-o ao
alcance dos olhos e do coração. Foi incrível como demonstraram vividamente
romper com os impasses, de algum modo avançando na escritura.
Um aluno me
chamou a atenção, Ernesto, o mais chato e desagradável da sala. Consultou-me
sobre seu percurso na resposta e lhe fiz ver a projeção da teoria de Bauman na
realidade. Desenhei (sim, desenhei) um conjunto de guetificações miseráveis e
de luxo, nomeando-as devagar, olhando-o com firmeza, com a conhecida firmeza
guevarista, endurecida pero con ternura, indagando-lhe se não era como via e
sentia a cidade. Ele me acompanhou atento e ao final expressou-se com uma
luminosidade convincente, dizendo que agora era possível entender a proposta do
Bauman. Voltou para a carteira e respondeu a questão, que
ao final das contas, me pareceu bem resolvida. E assim foi com um conjunto de
outros alunos, sem oferecer respostas objetivas, mas conversando sobre os temas,
indagando-lhes sobre o entendimento das coisas.
Um
a um foi se retirando, com aquela consciência (ou impressão) de que tinham
capturado o que não conseguiam antes fazer ideia. Ainda assim saíram
preocupados, mas com uma leveza para eles mesmos, inesperada. De minha parte,
nunca uma prova me pareceu um instrumento tão propositivo e eficiente para
fazê-los avançar sobre um adorável enigma. Fomos a última sala a deixar o
andar, e de algum modo percebi a necessidade do esforço pedagógico, ainda que
em um momento supostamente indevido. Sei lá, qual é o tempo definido para o
aprendizado e compreensão das coisas? Eu os tinha (na verdade, ainda os
tenho...) como desinteressados sem causa, mas por um momento pude perceber que
uma atenção mais intensa e cuidadosa pode ao menos amenizar tensões
insuperáveis. Um dos alunos me indagou sobre o que era esse estranhamento
diante de uma cultura distinta, que Laplantine tão lindamente aborda em seu
texto.
E conversamos largamente sobre isso. Outros participaram, e ouviram, e comentaram
cada qual à sua maneira, a voz que se articula e que se faz ouvir! Não lhes dei
respostas, apenas propus caminhos para um desejo de ir mais além dos horizontes
conhecidos. Avançar por veredas difíceis, mas construtivas, sem receios, e
promover a eliminação do medo, dos preconceitos sobre o desconhecido. Tudo pode
parecer um longo percurso sem atalhos, mas sinto a necessidade de descobrir
quem são aqueles alunos, e por algum caminho fazer cumprir os desígnios de uma
escolha, ou seja, contribuir para uma discussão que faça despertar as dúvidas,
sem deixar de estimular a confiança.
(Uma versão expandida deste texto encontra-se na revista digital VilaFlor: http://www.vilaflor.art.br/edicao-03/marco-antonio-bin.php)
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