07 junho 2012

Bourdieu nas classes



Na primeira noite, cheguei uns minutos antes e me concentrei, juntamente com os alunos, diante da sala onde ocorreria a primeira aula, a Rodolfo Walsh. Primeira noite, primeiras impressões, me sentia um intruso, cercado por graduandos com seus cadernos e suas conversas marcadas por palavras por mim desconhecidas. Ao mesmo tempo, o pequeno saguão recebia uma avalancha sem fim de alunos dos outros andares, que circulavam para cima e para baixo, tomando as escadarias forradas de cartazes, cenário típico das faculdades públicas argentinas. 

Logo as portas se abriram, outro fluxo se formou por algum tempo, alunos saindo da aula recém concluída, e nós, eu já pensava assim, formávamos um nós ainda que não constituídos como um conjunto conhecido, aguardávamos a vez para entrarmos na sala. Logo todos nos acomodamos, enchemos a cátedra com seus bancos de igreja e a aula teve início com um documentário belíssimo sobre Bourdieu, La Sociología es un deporte de combate. Nada mais propício para nos acostumarmos com a presença espiritual deste impressionante sociólogo, aberto aos debates francos, às consultas dos alunos nos corredores das instituições, às entrevistas em pequenas rádios, à intensa atuação como intelectual. 

Nos demais dias, os encontros se deram em classes distintas, sob os mais diversos modos de interlocução, em torno de uma mesa, em sala de aula, em pequenos auditórios, e até mesmo no espaço da biblioteca. Nos acostumamos com as feições de cada participante, pude conhecer não só alunos, como também professores oriundos de diversas instituições argentinas, cada um com um motivo para conhecer mais profundamente as ideias de Bourdieu. Pudemos conversar sobre nossas pesquisas, discutir criticamente as participações dos professores, aprovados pela competência com que planificaram a didática das exposições.

Por fim, a percepção dos espaços deteriorados, o contraponto de uma faculdade de ponta na produção de conhecimento. O que acontece? Por que tamanha desconsideração do governo com estes dedicados artesãos do ensino? Não tive tempo para avançar nestas questões. Optei por reconhecer as faces generosas de cada mestre, gratificados pela oportunidade de promoverem um novo ciclo de debates, de análises, de reflexões, e do fundo da alma revelarem uma parcela da riqueza que acumularam, o conhecimento, oferecendo-o com um carinho digno da mais bela nota.



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