11 março 2012

Pablo Neruda

Santiago vista do cerro San Cristobal, 2008


Em meados dos anos 1980, a poesia de Pablo Neruda foi o instrumento mais ao meu alcance para resistir à ditadura de Pinochet. Seus versos tornaram-se uma fonte de inspiração, e a inquietação de suas palavras me alimentava.

"(...) Mirando frente a frente al sabio
sin decidirme a sucumbir
le mostré que podía ver,
palpar, oír y padecer
en otra ocasión favorable.
Y que me dejara el placer
de ser amado y de querer:
me buscaría algún amor
por un mes o por una semana
o por un penúltimo día".  

Naqueles anos, em pelo menos duas ocasiões, ela revelou-se calorosamente próxima. Numa delas, em meio a uma arguição minha sobre a chama visceral de Neruda (e por certo, da Unidade Popular), uma amiga retirou um dos tantos broches que guardava no peito e me entregou, "Agora isto lhe pertence". Tratava-se de uma delicada bandeirinha do Chile...  

"(...) Patria, tierra estimable, quemada luz ardiendo:
como el carbón adentro del fuego precipita
tu sal temible, tu desnuda sombra.
Sea yo lo que ayer me esperaba, y mañana
resista en um puñado de amapolas y polvo".

Meses mais tarde, ainda sob os efeitos desse tempo aceso da luta, escolhi buscar outras paragens para recomeçar a vida, ou apenas para sonhar. Foi quando um bom amigo, sabendo da minha decisão de partir, presenteou-me com Coração Amarelo, obra póstuma de Neruda. Continha uma dedicatória: 

"O Coração Amarelo do homem Negro, Branco ou Vermelho, que passou a vibrar em plataformas superiores, porque utilizando-se de sua Vontade, passou a saber ousar".



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