Um sociólogo que sempre me deu prazer em discutir com os alunos na sala de aula foi Georg Simmel, pela atualidade de seus textos, pela fluência de sua escrita, pela clareza de suas ideias. É desses autores que nos preenche com seus argumentos, impulsionando-nos para novos horizontes. É um dos primeiros sociólogos a discutir a circulação do dinheiro e suas consequências na vida da metrópole. Expõe de modo consistente como a precisão e a racionalidade conduzem ao comportamento impessoal, ao esvaziamento do indivíduo (a atitude blasé), a vida objetiva prevalecendo sobre a vida subjetiva.
A contemporaneidade de suas preocupações, marcadas pelas transformações da vida cotidiana e seus efeitos sobre o intelecto, sempre possibilitou aos alunos realizar o debate de temas cruciais de nossa época, como a violência das relações urbanas, o estresse, a sedução do dinheiro etc.
Ofereço aqui um outro Simmel, uma versão (parcial) de um de seus textos publicados na revista Jugend, uma breve narrativa literária, marcada por elementos lúdicos e fantasiosos.
A contemporaneidade de suas preocupações, marcadas pelas transformações da vida cotidiana e seus efeitos sobre o intelecto, sempre possibilitou aos alunos realizar o debate de temas cruciais de nossa época, como a violência das relações urbanas, o estresse, a sedução do dinheiro etc.
Ofereço aqui um outro Simmel, uma versão (parcial) de um de seus textos publicados na revista Jugend, uma breve narrativa literária, marcada por elementos lúdicos e fantasiosos.
por Georg Simmel
"Era uma vez um homem ao qual um mago lhe concedeu a capacidade de fazer as pessoas mentir, quando o desejasse (...) Uma vez se enamorou de uma mulher. Sabia que ela era distante e fria com ele e que isso nunca mudaria: entre ambos, havia um abismo que o amor podia perfeitamente saltar, ainda que faltasse a ponte para atravessá-lo. Ela era indiferente com ele, não como se é com qualquer um, mas uma indiferença que sugere um sentimento completamente positivo, não uma falta de sentimento (...). E não pode evitar a tentação de exercer seu poder: obrigou-a a responder que sim, não com o pesar de que fosse uma mentira, até porque era. Pois devia dizê-lo não apenas com seus lábios, mas também com alguma porção de seu eu, que transcendesse seu coração, com alguma parte de si que ela não pudesse desmentir, mas que a alma de sua alma condenasse a mentira.
De imediato sentiu o caráter insuportável da existência que a mulher levava a seu lado, a imensa desdita de que nem sequer uma vez ela pode odiá-lo de coração, mas que abrigara por ele um sentimento mentiroso. Ele havia se enganado, como todos os que opinam que se pode ser feliz em uma estreita relação à custa do outro. E como levavam juntos uma vida miserável, teve a ideia de exercer sobre si mesmo seu poder de fazer mentir: ele mesmo se faria crer que ambos eram felizes. Isto resultou excelente, e agora estava tudo tão bem - ao menos quase tão bem - como se poderia estar. Agora se dava conta de quantas boas intenções havia tido o mago para com ele".
(extraído do livro Imágenes momentáneas, Gedisa Editorial, Barcelona, 2007)
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