01 fevereiro 2012

Homens que despacham



Homens que despacham são esses homens, tolos e desnecessários, que surgem para cumprir alguma ordem onde você, mais cedo ou mais tarde, está de algum modo envolvido. Se prestam a convocar pessoas, e quando convocam, formulam a continuidade de uma ordem, para o bem ou para o mal. Desprendem um sorriso frívolo ao portarem a notícia ruim, assim como um olhar frívolo, quando ela é boa. Neste caso, é possível verificar o despeito que lhes revolve as entranhas, quando a frieza profissional por um instante é suspensa, sob um desconforto suavemente patético.

Revelam a “brecha” do sistema nesse átimo inapreensível, quando seus gestos tateiam superfícies sólidas e acumuladas de papéis, enquanto perdura o estado de júbilo do interlocutor. Assim como o sistema que representam, os homens que despacham devem manter-se no limite da funcionalidade, simples como isso. A indevida emoção torna-se um inconveniente, porque foram contratados para cumprir ordens, e não para avaliá-las.

Por uma curiosa derivação de suas funções, o infortúnio do outro tem o dom de lhes apaziguar o adestramento, e o recebem tal como uma gota de óleo na engrenagem. Mas a refulgência do bem-estar proporcionado tem o efeito de intimidá-los, de romper com a correia de transmissão. Então, o mecanismo se embaralha, o ato racional e consequente se manifesta em sensível paralisia, ainda que de efêmera duração.

O estranhamento esculpido nas faces parvas dura um piscar de olhos. Logo, como se as células digitais fossem reprogramadas, a energia é reconstituída e o dispositivo retoma suas funções. A frustração, se é que podemos assim nomeá-la, é prontamente absorvida em nome da presteza abjeta, e ei-los atentos, solertes, com inabalável disposição para a nova ordem a ser despachada, pois como vimos, esses miseráveis homens que despacham precisam dar algum sentido às suas vidas, mostrando que podem ser úteis ao sistema que servem.


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