Há um olhar que é sublime, que antes de nos percorrer ou nos perquirir, se entrega delicadamente às nossas solenes espontaneidades. As coisas se ajeitam assim, o tempo deixa de ser o fundo incômodo de passagem, para dar lugar ao modo solícito de ser. O café levemente movido com a colherzinha, o sorriso sem jeito que denota o corpo e a alma, entregues ao toque sensível, também das palavras.
Mais de um encontro de olhares, muito mais de um alinhamento de ações de interesse. Por aí, quem sabe, se define o illusio, essa expectativa de estratégias, vital na existência de um campo. Quais as possibilidades do jogo? Que disputas, e por quais caminhos, enveredará o jogo que se joga? Os olhares em suas reminiscências fugidias logo serão abandonados, em nome de uma posição, e no momento oportuno, serão usadas as cartas-trunfos, que como diz Bourdieu, permite ao seu possuidor dispor de um poder, uma influência, e portanto, existir no campo, em vez de ser apenas uma cifra desdenhável.
Não se espera a subversão pelo olhar, e na serena mesa au Café, é mais provável que logo se defina a submissão de um dos lados ao longo do tempo, os sentimentos engolidos comme il faut, transformados em estratégia, em nome do aumento ou conservação do capital simbólico. Mais fichas serão colocadas à disposição dos contendores - agora denominados assim - que debaterão com outros, para assumirem uma proeminência. Quando muito, os participantes jogarão o jogo para transformar as regras que definem o funcionamento do campo, em seu benefício, a salvaguardar ou melhorar sua posição e impor os princípios de hierarquização mais favoráveis, para seus próprios fins.
E se desvanece, como água na água, a pureza dos movimentos; a enunciação do olhar ganha, enfim, sua decisiva conversão.
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