Recebi um email da querida MR, que manifestou, em poucas linhas, o extravasamento de uma grande alegria, que gostaria de compartilhar com todos:
---- Que lindo dia hoje, Marco! (Quando saí fui até o começo (fim) da Paulista, não entrei porque estava bem cheio e tinham crianças no carro que estavam sem cinto... houve uma festinha de Dia das Bruxas por aqui e assim comemoramos, espantando as bruxas que já foram...)
---- estou lendo A Vida Privada, juntei com o Robert Darnton - lembra-se, a Marialva Barbosa falou dele - e vou trocar a informação dos saraus (porque não consigo encontrar referências tão confiáveis) pela questão da leitura - descobri coisas bacanas, entre as classes populares havia um momento do dia, ao fim da tarde, la veillé - em que se reuniam para ouvir-ler - as mulheres costuravam, os homens mexiam em ferramentas...
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vamos ver se não me perco neste embrenhado de coisas bonitas!
vamos ver se não me perco neste embrenhado de coisas bonitas!
beijos
MR
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O que me estimulou a lhe descrever minhas impressões, vivenciadas no mesmo final de jornada:
MR querida, o dia seguinte tem sido de profundo relaxamento... como se todos os temores e fantasmas acumulados deixassem de vez o convívio, permitindo uma brisa suave e generosa... como ontem, a noite fresca, as pessoas felizes, com o sentimento do dever cumprido... porque não tenho dúvidas, MR, que todos que buscamos as ruas, buscamos nossos cúmplices nesta dura luta muitas vezes silenciosa, mas honesta e decidida, feita nos espaços e nos tempos possíveis de nossa vida cotidiana, junto aos outros, esses outros que estão aí, que compõem a sofisticada razão de nossa existência...
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Foi belo, em certo momento, deparar com a avó e seus dois netos, talvez de sete e quatro anos, cada um com a bandeira da Dilma, acompanhando o discurso do carro de som... Cenas discretas, inúmeras como essa, que se diluíram no frescor da noite para demarcarem um novo espaço de luta, esse que se define na satisfação de uma vitória e no comprometimento com um mundo mais feliz e encantado...
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As muitas crianças que encontrei me permitem acreditar nesse encantamento, nesse senso de justiça e desejo de um reencontro com a mais genuina narrativa humana, sensível, rica em suas nuanças, e não a mera reverência ao sucesso a qualquer preço, definido pelos relatos contábeis das corporações e a brutalidade atroz de um ritmo que não é de ninguém, senão do lucro...
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Reencontrei com especial simpatia os olhares detrás do balcão... Para um deles, que reverberou um brilho de incontida felicidade, expus um pouco dos momentos da festa na avenida e minhas expectativas do novo governo...
É tempo de Monteiro Lobato, não de La Fontaine, MR querida, ao menos no que diz respeito à fábula da cigarra e da formiga... esse final que aproxima, que respeita, que acalenta, e que passo a lhe relatar:
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"(...) Aparece uma formiga friorenta, embrulhada num xalinho de paina.
- Que quer? – perguntou, examinando a triste mendiga suja de lama e a tossir.
- Venho em busca de agasalho. O mau tempo não cessa e eu... - A formiga olhou-a de alto a baixo.
- E que fez durante o bom tempo que não construí a sua casa? A pobre cigarra, toda tremendo, respondeu depois dum acesso de tosse.
- Eu cantava, bem sabe...
- Ah!... - exclamou a formiga recordando-se - Era você então que cantava nessa árvore enquanto nós labutávamos para encher as tulhas?
- Isso mesmo, era eu...
- Pois entre, amiguinha! Nunca poderemos esquecer as boas horas que sua cantoria nos proporcionou. Aquele chiado nos distraía e aliviava o trabalho. Dizíamos sempre: que felicidade ter como vizinha tão gentil cantora! Entre, amiga, que aqui terá cama e mesa durante todo o mau tempo. A cigarra entrou, sarou da tosse e voltou a ser a alegre cantora dos dias de sol".
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Não é lindo!...
Não é lindo!...
Beijos...
Marco.
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