28 novembro 2010

Sobre a dignidade




Foi duro, muito duro... considerando as circunstâncias, o brutal embate de cada dia, a esperança de vencermos uma eleição acompanhando a má vontade do discurso hegemônico, desejoso em investir no candidato sem projeto e sem ideias... E assim, passamos - todos os que enfrentaram o bom combate - à espreita das surpresas de cada dia, as manchetes de primeira página, as capas de revistas, as distorções editadas nos jornais globais, para então reagirmos em nossos atos solitários e solidários... Processo de profundo desgaste essa expectativa infinda, de contestar a farsa, o cinismo, a dissimulação, procurando sempre responder trazendo a discussão ao contexto dos acontecimentos.

Foi, como disse, um processo de profundo desgaste, ao qual, confesso, me recupero aos bocados. A felicidade não foi devidamente comemorada com os bons amigos, ainda porque estamos enfronhados na labuta das jornadas diárias. Mas logo me reunirei com uns poucos abnegados, companheiros de todos os dias, para festejarmos a vitória que certamente dará continuidade ao elenco de transformações sociais neste país.

Não posso esquecer o papel fundamental das redes sociais, dos amigos devotados, do jornalismo independente que na figura de destemidos cidadãos, utilizaram da melhor maneira o suporte digital para levar a informação necessária, aquela que nos alimentou para difundir o esforço boca a boca dos argumentos decisivos. Esses bravos lutadores que não se renderam, e que de maneira digna sobrepujaram as dificuldades das circunstâncias, souberam prover com coragem e determinação uma ampla conectividade na rede virtual, decidida a propagar a verdade dos fatos.

De modo que foi com indisfarçável satisfação que acompanhei o encontro dos blogueiros com o presidente Lula, um significativo desfecho para todo o episódio eleitoral. Um encontro que celebrou a sagração, dentre outras coisas, do respeito ao próximo.

***

Em conversa com meu pai (e para mim é sempre muito bom ouvi-lo), soube de um episódio que conhecia vagamente, e que ocorreu há muitos anos. Foi quando a sua vida ainda não estava consolidada, os filhos ainda pequenos, as prestações pesadas, um desses infindáveis dedos acusadores resolveu difamá-lo, junto às pessoas próximas.

Discretamente então, dirigiu-se à diretoria da empresa e pediu demissão. Não criou nenhum alarde, e posso imaginar que se expressou com o surpreso diretor no mesmo tom sereno com que elucidou os fatos para mim. Um mísero dedo acusador, do qual nada mais se soube...

Meu pai preservou a altivez, pediu demissão. A sua explicação: não tinha como prosseguir em uma empresa onde existisse um mínimo de desconfiança sobre meu caráter.



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