20 setembro 2010

Tempo de mudanças



A mídia hegemônica sucumbe em função de um jornalismo que não diferencia alhos de bugalhos. Ao contrário, para manter-se dominante no mercado, transforma o mundo em uma farsa espetaculosa, maçaroca que, ao contrário de poder, oferece perda de credibilidade.
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Quando falo em farsa espetaculosa, o objeto da notícia pode ser o terremoto do Haiti ou as eleições brasileiras de outubro. O terremoto do Haiti presta-se como notícia enquanto se sustenta como um drama vendável, onde as matérias perduram até arrancar uma derradeira dor de desconsolo. As eleições preservam-se como notícia enquanto puder se desdobrar de um fato, para um escândalo artificioso. A semelhança entre os dois temas é que eles desaparecem quando novos assuntos potencialmente explosivos tornam-se sedutoramente exploráveis.
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Assim, a mídia hegemônica distancia-se do verdadeiro jornalismo. E estruturada nas bases presentes, condena-se, pois não tem como resistir à inovação proporcionada pelas mídias sociais. Inovação cunhada em princípios que valorizam o conhecimento e a informação, que transforma o leitor de mero sujeito passivo, receptor tolerante das interpretações fechadas, em um agente participante, que propõe suas ideias e interage nos debates.
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O estilo neocom, bruto e autoritário, que desponta com o robustecimento do neoliberalismo, nos anos 1990, sucumbe, pois, diante da fascinante abertura democrática proposta pelas mídias eletrônicas. Rompe-se a hierarquia da produção de informação e conhecimento, assentando as trocas na horizontalidade dos direitos universais. A mentira não mais se sustenta!
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Para não perder espaço, a decadente mídia hegemônica não abre mão do espetáculo, que surgindo da dor ou da farsa, é explorado da mesma maneira. Sua base de sustentação se restringe cada vez mais a uma burguesia aristocrática, que também não consegue ver as transformações ao redor. Para ela, a derrota de Serra é uma catástrofe, com a qual não sabe lidar, nem tampouco explicar. Essa catástrofe expressa apenas o sentimento de que nada vai mudar ou as coisas só vão piorar, quietismos ou catastrofismos que evidenciam o desconsolo pelos desígnios da classe, completamente descolados do sentimento da nação...

A voz que manifestará esses sentimentos será a mídia hegemônica. Ela pautará os anseios e dissabores (aliás, como sempre o fez) da classe dominante, editando as pautas políticas a partir dos seus interesses em questão.
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É essa força e esse poder que a envelhecida mídia resiste em constatar que perdeu. Persistirá em sua luta obstinada (desvinculada da luta pelos interesses da nação) em dar voz aos eternos desígnios da burguesia aristocrática, sem que ambas consigam compreender as transformações sociais dos novos tempos. E juntas - a outrora mídia dominante mais a burguesia de monóculo - dadas as circunstâncias dos acontecimentos, aprofundarão o processo de fratura social.

Donde podemos compreender que a divisão social não é estimulada pelas políticas sociais de um governo popular, mas pela resistência de uma elite arcaica, que deseja ser o que não é mais possível e acreditar em um mundo que não mais existe.


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